Conexões 17 | Neigmar Vieira entrevista Ricardo Alpendre

Seguimos com a Décima Terceira entrevista da seção Conexões, com o nosso parceiro Neigmar Vieira do Lado A Discos, entrevistando locutor publicitário, cantor e compositor Ricardo Alpendre.

Nei: 1 -  Como aconteceu a sua formação musical?
Foto: Vagner Nascimento
Ricardo: Minha formação de músico, se aconteceu, foi por acaso. Digo isso porque não me considero músico no sentido técnico da palavra - como o Edu Lobo é músico; ou da forma que o guitarrista Michel Leme, por exemplo, ou o Mateus, tecladista do Tomada, são músicos, com pleno domínio da teoria e prática musical. Antes eu apenas brincava de tocar contrabaixo com uns amigos, coisa amadora, até que na falta de quem cantasse eu resolvi deixar a timidez de lado e arriscar umas vozes, sempre sabendo que interpretação era coisa pra gente grande, mas ainda distante de dominá-la. O pessoal gostou (afinal era o que tínhamos), e vendo que causava uma boa impressão, montei uma banda como cantor com o Bento, o Marcião, que depois viria a ser do Tomada, o Ivan, hoje no Pedra.
Isso já aconteceu tarde, lá pelos vinte e oito anos. Passado um tempo, com o fim daquele grupo, fui convidado pelo Pepe (Pepe Bueno - baixista) a entrar no Tomada, que ele havia montado com uns amigos feras uns poucos meses antes. Foi após o primeiro show meu com o Tomada, junto com o Baranga, que um cara me viu cantando e me convidou para entrar em um grupo coral. Esse cara era o Totó, amigo de longa data do Paulão, do Baranga. Pra minha imensa sorte, o coral para o qual fui convidado era um trabalho de bom nível, em que o maestro e o preparador vocal são os maiores mestres com que já tive contato na música. Cantávamos música erudita, principalmente renascentista, e negro spirituals (aquela música religiosa dos negros norte-americanos).
Assim, essa formação musical vai se dando até hoje, porque continuo no mesmo grupo coral que pra mim fez a diferença entre o não saber e o saber cantar - coisa que só fui percebendo com o tempo, claro.

Nei: 2 - E o Tomada quando apareceu?
Ricardo: Pois é... O Tomada, que apareceu antes que eu tivesse dado os passos mais importantes na minha formação e meu desenvolvimento, veio em 2001. O Pepe já havia montado o grupo lá pelo fim de 2000. Lembro-me de que entrei no Carnaval de 2001.

Nei: 3 - Uma das faixas que mais gosto do Tomada é “Boogie do Café” que está no disco “Volts” de 2004. Como foi o processo de composição dela? Vejo claramente você (?) sentado em um café escrevendo a letra... Foi isso mesmo?
Ricardo: Isso não foi muito depois de lançarmos o primeiro álbum, TENDR&R. Estávamos num lugar em Boiçucanga, São Sebastião (praia e bairro do município de São Sebastião - São Paulo) que tinha um café, e eu não posso ver um café que quero entrar. Aí começou a cair uma chuva daquelas que só um bom verão pode trazer no fim de tarde.
Como estava pirando nos dois primeiros álbuns do Cascadura naquele momento (e estou até hoje), pouco depois comecei a cantarolar essa melodia, que é bem simples, com a letra que foi saindo aos poucos.
Provavelmente tinha conversado com o Pepe no dia da tal chuva sobre fazermos essa música, não lembro bem. Aí continuamos fazendo a música, um rock 'n' roll bem simples com umas brincadeirinhas interessantes na harmonia. Lembro de que o Martin Mendonça, um parceirão de primeira hora, gostou muito quando ouviu, o que me deixou muito feliz.


Nei: 4 - Conheço apenas dois trabalhos do Tomada – “Tudo em nome do rock n’ roll” de 2003 e “Volts” de 2004. Você pode dar uma geral na discografia da banda e dizer o que vem por aí?
Ricardo: Eu particularmente não gosto desses dois discos, embora eles tenham seus momentos, como a própria "Boogie do Café", por exemplo.
No caso dos dois discos faltou um produtor, e também uma orientação desde o período das composições, porque se eles têm bons riffs e instrumental coeso, faltou saber como desenvolver linhas melódicas e as letras para elas. E por consequência a interpretação fica limitada.
O Volts, que foi gravado em 2004, saiu em meados de 2005, que foi quando o Marciano entrou na banda, na bateria.
Só em 2010 gravamos O Inevitável, que considero o melhor dos três, disparado. Ele foi lançado em 2011. Independentemente de ser outra formação, houve uma evolução enorme em composição, arranjo, interpretação e execução.
E por último tivemos o DVD XII , que conta a história da banda. Com mais uma grande mudança de formação (só eu e o Pepe estamos neste tempo todo), temos várias composições para o próximo álbum e ainda estamos fazendo várias outras. Com nossa recente associação com o Mazzola, um dos maiores produtores de discos do Brasil, nós acreditamos muito nesse próximo disco.

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Nei: 5 - Quando você reparou que além de cantor sua voz poderia ser seu instrumento de trabalho como locutor publicitário?
Ricardo: Não fui eu em quem reparou: repararam por mim! O pessoal costuma elogiar minha voz, inclusive falada, desde sempre. Então, em determinado momento eu fui aprender locução para rádio e para publicidade, o que, não por acaso, também me trouxe mais elementos de técnica vocal e interpretação para o canto também. Uma atividade ajudou na outra.

Nei: 6 - Como é trabalhar na poeira Zine?
Ricardo: Sou um colaborador na revista, não tendo vínculo. Claro que, sendo uma publicação independente, requer que eu e o Bento (Bento Araújo editor da revista) façamos tarefas que numa editora caberiam a um staff administrativo.
E aí vem a parte mais criativa e subjetiva, de escrever matérias em uma publicação que fala de arte com matérias carregadas de opinião e senso crítico.
O mesmo vale para o poeiraCast (programa semanal da revista poeira Zine que vai ao ar toda quarta – feira na internet, cuja locução é feita por Ricardo) e o site. Mas, em resumo, sou apenas um colaborador. O Bentão é a cabeça por trás de tudo.

Nei: 7 - Ricardo fique a vontade para fazer suas últimas considerações e deixar contatos, emails, redes sociais e o que mais achar necessário.
Ricardo: Olha, eu me senti muito lisonjeado com o convite para dar uma entrevista ao Lado A. Espero que os leitores gostem, e que curtam meu trabalho com o Tomada, com os Alquimistas e com a banda do Gaspa.
Alguns desses trabalhos estão no meu site, www.ricardoalpendre.com.br. Para quem quiser visitar minha página no Facebook, o endereço é www.facebook.com/ricardoalpendrelocutor.