Vinil Brasil: a segunda fábrica de vinis da América Latina

Nessas últimas semanas, a notícia que foi bombardeada em sites e páginas referentes ao mundo do vinil, foi que a segunda fábrica de vinil da América Latina foi fundada na Barra Funda, em São Paulo.
Segundo o jornal  Folha de São Paulo, a Vinil Brasil promete quadruplicar a produção de discos no país, algo muito interessante para os colecionadores e aficionados pelo vinil, já que única fábrica que existia até o momento era a Polysom, no Rio de Janeiro.
Segundo a reportagem o objetivo da fábrica é competir com a carioca Polysom, única fábrica de vinis do continente, com metas de baratear o preço do disco no Brasil e facilitar o acesso de novos artistas à velha mídia e além disso, dar início de uma enorme mudança no meio fonográfico brasileiro e criar um mercado musical sustentável.
Foto: Marcelo Justo/Folhapress - Divulgação
A fábrica está localizada numa pequena rua na Barra Funda, um dos bairros mais tradicionais de São Paulo. "É uma fábrica de sonhos", explica o músico Michel Nath, ao mostrar quatro das sete prensas de vinil que já estão prontas para começar a fabricar vinis em São Paulo. Sim, São Paulo terá a segunda fábrica de vinil da América Latina ainda em 2016 - o plano de Michel é começar a produzir discos ainda este semestre.Michel não se vê como um empresário: "Seria muito fácil reformar tudo isso, como eu fiz, e vender a preço de ouro para alguém que só pensaria em ganhar dinheiro", ele conta, batendo com força no tambor de metal da parte debaixo de uma das prensas. "Isso aqui é sólido, esse tipo de máquina não é mais fabricado, não tem preço", explica.
Foto: Marcelo Justo/Folhapress - Divulgação
Ainda segundo a reportagem, foi um amigo que encontrou num ferro velho as sete prensas que um dia foram da antiga gravadora Continental e avisou Michel. Ele começou um lento processo de restauração que marca como o início de sua fábrica de sonhos, em outubro de 2014. De lá para cá, alugou um pequeno galpão na Barra Funda, montou toda a parte hidráulica, com caldeiras e medidores de pressão, resolveu a questão da mesa de cortes de discos e agora entra na parte final do processo, que é implementar a fase de galvanização.
"Mas este é um processo químico, intermediário, é só questão de acertar a fórmula", explica. Além disso, Michel contratou funcionários das velhas fábricas de vinil brasileiras para ajudá-lo a mexer naquelas relíquias mecânicas.
A história da Vinil Brasil é o início da segunda fase da vida de Michel, que encerrou a primeira justamente fazendo seu primeiro LP. Músico, poeta e DJ, o paulistano de 39 anos passou uma temporada na Europa, onde foi discotecar música brasileira e, quando se estabeleceu em Londres (cobrindo as férias de um amigo que era DJ de rock em um Hard Rock Café), voltou a compor ao violão.
O resultado deste processo é o disco "Solarsoul", gravado ao lado de diferentes nomes da cena paulistana, como Tatá Aeroplano, o trombonista Bocato, Bruno Buarque e Alfredo Bello. "É um álbum, um disco com começo, meio e fim, para ser ouvido em vinil", conta o autor, explicando que não bastava compor, gravar e lançar seu disco - ele tinha que existir como um LP.
“Estamos vivendo o momento mais especial da música brasileira. A nossa geração cresceu tendo acesso a informações e a pesquisas musicais que as gerações anteriores não tiveram. Acredito que estamos em uma época de ouro da música nacional. A gente tem muita coisa boa, singular e significativa, que precisa ser registrada, e eu quero ajudar nisso. Principalmente no que eu acredito que tem relevância cultural. A minha preocupação é em deixar um legado, quero contribuir para o mosaico da cultura universal. Eu me sinto responsável por algo muito legal. Eu estou cuidando de um negócio que faz bem para o planeta, que faz bem pras pessoas, que não gera prejuízo a ninguém. A música é algo que faz as pessoas felizes, mexe com emoções, com sonhos. A fábrica só vai funcionar nesta condição. Eu quero zelar pela cultura discográfica brasileira,” declarou Michel.
O músico ainda afirmou que pretende ter preços competitivos e flexíveis, segundo ele “não vou fazer um disco nem barato, nem caro. Eu preciso só fechar a minha conta. O valor deve seguir o mercado.
Quando perguntamos sobre as expectativas dele em relação ao novo empreendimento, Michel foi categórico, “quero causar uma revolução no mercado fonográfico brasileiro, multiplicar por dez a quantidade de produção de discos que estamos tendo no país, mas também servir a Europa e Estados Unidos. Quero que a qualidade do vinil suba e que o preço baixe, para que mais pessoas tenham acesso”. E acrescentou “acredito que o vinil deve ser valorizado de verdade, o som é realmente melhor do que em qualquer outra mídia. Não quero que seja visto apenas como algo cool, mas como um formato que veio pra ficar. Vai nascer uma fábrica que estará a serviço da música.

Foto: Marcelo Justo/Folhapress - Divulgação
Michel, no entanto, não planeja lançar seus próprios discos. Ele quer que a Vinil Brasil seja vista como uma realidade possível para novos e velhos músicos, fazer que o vinil deixe de ser um sonho distante, como é hoje. "Pode ser que num futuro próximo eu tenha um estúdio, em que o cara possa gravar de manhã e sair daqui no final da tarde com o disco debaixo do braço, não é maravilhoso?", cogita. Mas por enquanto sua ênfase é manter o ecossistema ativo em todas as suas etapas. Por isso, já está conversando com lojistas, produtores, distribuidoras, imprensa e, principalmente, artistas.
"Quero que eles entendam que isso aqui não é feito para me enriquecer, mas para enriquecer a cultura brasileira", diz, ao lembrar do entusiasmo de todos os que já viram as prensas, pintadas com cores vivas para enfatizar o processo artístico mais que o industrial.
Das sete prensas, quatro já estão em condições de operar e Michel diz que quando a fábrica abrir, poderá produzir mil discos por período. O disco número 1, claro, vai ser o próprio "Solarsoul", que funcionará como teste para seu equipamento. "Eu vou saber que a fábrica estará pronta quando meu disco soar como tem de soar", explica.
Enfim, apesar da visão otimista de alguns colecionadores em relação aos preços, não acredito que os preços de lançamentos e relançamentos de vinis mude muito. A Polysom não irá baratear a curto/médio prazo os vinis produzidos, afinal o material que eles lançaram ou relançaram (ou ainda vão lançar ou relançar) não poderão, em teoria, ser produzido pela nova fábrica e assim não há uma concorrência.
O grande benefício de uma nova fábrica brasileira está na disponibilidade de outro tipo de material, afinal a ideia de Michel é que novos e antigos artistas possam gravar álbuns no formato de vinil. e quem sabe tenhamos preços mais acessíveis no futuro.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1730917-nova-fabrica-promete-quadruplicar-producao-de-discos-de-vinil-no-pais.shtm