Destruidores de vinil: toca-discos que detonam os vinis

A venda de toca-discos e a produção de vinis no Brasil vêm crescendo nos últimos anos e várias são razões que impulsionam cada vez mais pessoas para o formato.
Nessas últimas semanas, vi vários comentários e reportagens a respeito dos toca discos novos vendidos em lojas famosas, livrarias, internet, entre outros.
Comecei a fazer uma breve pesquisa e notei que o assunto era mais sério do que eu esperava pois o aumento da procura pelo vinil fez com que a procura por toca-discos novos aumentasse. Algumas marcas se aproveitaram desse mercado em crescimento para vender toca-discos com um preço razoável de forma acessível ao grande público e obtiveram grande apoio das grandes redes de lojas por todo Brasil.
Além do design vintage, algumas possuem as caixas embutidas e também cabem em qualquer lugar. Entretanto, o que muitos novos colecionadores não levam em consideração, talvez por falta de informação, é que a maioria desses novos toca-discos é feito de uma material de péssima qualidade e pior, detona a médio-longo prazo os vinis. Pessoas que viveram o tempo do vinil e conservaram sua coleção também formam o público-alvo desse tipo de produto.
A maioria dos novos toca-discos desse tipo possui peças de qualidade muito inferior: prato, braço, motor e parte mecânica feira de plástico, além da utilização de cápsula de cerâmica de baixa qualidade, muito usada em alguns toca-discos da década de 1970 e 1980.




A maioria possui fabricação chinesa e o que muda entre as várias marcas e modelos são os "adereços": retorno automático, pré e/ou amplificador embutido, caixas acústicas ou alto-falantes incluídos, usb, mp3, radio, cores diversas e tamanhos diferentes, incluindo as portáteis. Porém, a grande maioria não possui peças primordiais como contra-peso e regulagem de anti-skating.




Além da má-qualidade das peças e do som, a maioria desses toca-discos não possui um motor forte para suportar o peso de um 180g por exemplo e pior, o peso que a agulha exerce sobre o vinil fica entre 4g e 6g, sendo que o recomendado é no máximo de 2g a 2,5g. Esse peso excessivo destrói os sensíveis sulcos do vinil, danificando a qualidade do som a médio/longo prazo.
No Clube do Vinil e Toca-discos de Curitiba, grupo ao qual faço parte, discutimos essa semana esse assunto, além de diversos assuntos relacionados ao vinil. Até achei interessante algumas colocações, que vou descrever aqui. O colecionador Rafael Bardal sitou um teste de um desses modelos no qual a balança foi regulada para 5g e afirma: "Isso não é um toca disco, mas um destruidor de discos."... "se elas fossem vendidas por aqui com o preço que é vendido lá fora, a partir de $30-40, diria que para quem esta começando e quer conhecer o som do vinil, diria que vale a pena. Porém nossa realidade é bem diferente."


Daniel Pitt levantou uma questão interessante: o difícil acesso dos toca-discos de boa qualidade. "Acho que um dos grandes problemas na real é a indisponibilidade de toca discos decentes nas lojas, você não encontra aqui em Curitiba, por exemplo, Technics ou Rega nas lojas de áudio e vídeo, no máximo em lojas que mexem com TD e usados... a grande maioria das pessoas que querem ou acham interessante nem sabem que existem coisa melhor e por um preço compatível, acham que aquilo que ta ali na loja do shopping é coisa boa".




Assim, fica o alerta para os novos colecionadores ou aqueles que estão atrás de um toca-discos novo. Existem vários modelos e marcas de boa qualidade a um preço não tão absurdo. O grande problema talvez é que não adianta investir num bom toca-discos e não pensar no sistema de áudio. O investimento também deve ser feito num bom pré-amplificador, equalizador, amplificador, caixas acústicas e também nos cabos e conectores. O toca-discos não pode vir sozinho pois todos os componentes influenciam na qualidade final do som. Por isso, pesquise, leia fóruns, fale com colecionadores mais experientes antes de adquirir qualquer equipamento. (Não deixe de ler o artigo completo sobre toca-discos) ´
Para aqueles que já possuem um equipamento desse tipo, aconselho uma troca assim que for possível, pois o problema não é só os materiais serem de má qualidade ou o som baixo das caixas embutidas, nesse caso dá para resolver ligando o TD numa caixa auxiliar. O grande problema fica por conta da baixa rotação e principalmente pelo peso excessivo que o braço e o conjunto agulha e cápsula exercem sobre o vinil. Para essas toca-discos com toda a certeza vale o velho ditado "por fora bela viola por dentro pão bolorento".

Já está disponível no blog uma lista com o toca-discos de entrada existentes no mercado e também uma lista dos modelos intermediários mais indicados.