Capas Polêmicas - Parte 1

A arte de capas de discos precisa ser criativa e atrativa, pois além de transmitir ao comprador o conceito das músicas do álbum, contribui para o aumento na vendagem.
Porém, por questões de políticas, religiosas ou culturais, vários artistas foram obrigados a mudar a arte original das capas de seus discos por gerarem polêmica. 
É bom lembrar que a censura de capas de discos não é algo do passado. Em alguns casos até as próprias músicas do álbum são censuradas, como foi o caso recente do ‘Liebe Ist Für Alle Da’ da banda alemã Rammstein.
Abaixo você verá alguns exemplos de capas que foram censuradas, qual o motivo da censura e como ficou a adaptação da nova capa.



The Beatles – "Yesterday and Today" (1966) – Lançado em 1966 somente nos EUA e no Canadá, o disco carregava uma foto tirada pelo fotógrafo Robert Whitaker, mostrando o quarteto de Liverpool coberto de sangue, pedaços de carne e partes de bonecas. Apesar de ter dominado as paradas americanas na época de seu lançamento, a capa de "Yesterday and Today" foi duramente criticada. A gravadora Capitol ordenou que todas as rádios que possuíssem o disco com a foto sangrenta o destruíssem. 
Hoje existem poucos exemplares com a capa original, que para os colecionadores se tornaram muito valiosos. Recentemente em um leilão, um dos exemplares com a capa original foi vendido por 38.500 dólares.




Scorpions - Virgin Killer (1976) – Na Alemanha, país de origem da banda, até que a capa passou batida, mas ao longo dos anos, muita controvérsia por causa da imagem de uma menina em nu frontal, com um efeito de imagem  "vidro quebrado" ocultando a genitália. Nos Estados Unidos a capa teve de ser substituída por outra com uma imagem da banda. Na edição brasileira, aparece um escorpião caminhando sobre as nádegas de uma mulher. Esse não foi o primeiro disco a apresentar uma certa controvérsia: "In Trance" apresentava na versão original uma mulher com um dos seios a mostra; "Taken by Force" apresenta duas crianças brincando armadas em um cemitério na França; "Lovedrive" em sua capa original, apresentava uma mulher com um chiclete encobrindo um de seus seios, de uma maneira esquisita.
Quando a banda viu a capa de Virgin Killer pela primeira vez, ficaram chocados por causa da garota nua e ficaram em dúvida se usariam mesmo aquela capa ou não. Então, resolveram usá-la justamente por ser chocante. Segundo Klaus Meine, a capa foi um pouco "exagerada" para época. O significado da capa vai muito além da nudez na menina. Ele diz: "As crianças crescem, e como adultos, perdemos nossa inocência". Ou seja, analisando a letra de Virgin Killer, na parte "he's a virgin killer" (ele é um "assassino de virgens" ou "é um assassino da virgindade") pode ser encarado segundo a afirmativa de Klaus Meine, que quando crescemos, acabamos "sacrificando" nossa inocênica e pureza de quando éramos crianças. Além disso, alguns dizem que a modelo em questão não é uma criança, mas sim uma modelo adulta, sobrinha de um envolvido na produção do disco.
Porém o grande problema é que essa mesma capa voltou a acusar polêmica em 2008, por incrível que pareça. O Chelsea Schilling, do WorldNetDaily, informou que o FBI analisou se a foto de uma adolescente nua, publicada no site Wikipédia, poderia violar as leis norte-americanas contra pornografia infantil.
Quando o WorldNetDaily chamou a atenção de vários representantes da Wikipédia para a imagem, eles negaram ter qualquer conhecimento da mesma.
O FBI entrou na jogada e segundo eles, se o site continuar permitindo tal imagem, eles automaticamente estarão incitando crimes como a pedofilia.
Em vários países a capa foi banida e pelo menos duas capas alternativas foram comercializadas. 



Rolling Stones - Beggars Banquet (1968) – A idéia dos Stones era de que a capa de "Beggars Banquet", lançado em 1968, levasse a fotografia de um banheiro sujo e repleto de pichações. As gravadoras Decca e London, responsáveis pelo disco, fizeram a banda adiar o lançamento do álbum para que a banda pudesse providenciar uma nova arte: uma imitação de um cartão de convite. A capa original só veio à luz em 1984, quando Beggars Banquet foi lançado em CD pela primeira vez.


The Jimi Hendrix Experience - Electric Ladyland (1968) – O terceiro disco do deus da guitarra Jimi Hendrix causou rebuliço em outubro 1968, não apenas pelo seu repertório genial que mudou o rumo rock, mas também por causa da ousadia de sua capa. Uma fotografia de um grupo de belas mulheres nuas estampava Electric Ladyland. Recusada pela gravadora, a capa original acabou sendo substituída por uma foto da cabeça de Hendrix.



Guns N’ Roses – Appetite for Destruction (1987) – A arte inicial do primeiro disco do Guns N’ Roses, banda acostumada a controvérsias, trazia uma pintura que retratava um robô estuprador prestes a ser atacado por um monstro de metal. Apesar do imenso sucesso comercial (20 milhões de cópias vendidas), os escritórios da gravadora Geffen foram inundados com reclamações e comentários de indignação. Só restou ao selo recolher as capas e substituí-la por uma versão mais amena.



Lynyrd Skynyrd - Street Survivors (1977) - O quinto álbum de estúdio dos reis do southern rock tomou as prateleiras das lojas em 17 de outubro de 1977. Na capa, a banda inteira posava envolvidos por várias labaredas de fogo. Poucos dias depois do lançamento de Street Survivors, uma acidente aéreo matou dois integrantes e feriu gravemente os restantes. Depois da tragédia a capa foi retocada e as chamas removidas. Nesse caso não foi uma questão de censura, mas de bom senso.




Blind Faith - Blind Faith (1969) - O primeiro e homônimo trabalho do super grupo de Eric Clapton, Steve Winwood e Ginger Baker que provoca controvérsia até hoje. O autor da imagem na capa, que exibe uma garota nua segurando um avião prateado, alega ela foi fotografada com o consentimento dos pais. Apesar do disco hoje manter a capa original, na época do lançamento, ele foi recolhido e a imagem da garota substituída por uma foto em preto e branco da banda.



John Lennon e Yoko Ono – Two Virgins (1968) – Este foi o primeiro disco do casal. A partir daí, os dois não só firmaram uma parceria musical como também amorosa. É um álbum experimental, mas de péssima qualidade musical. Se não fosse o impacto da capa, provavelmente teria passado batido na época.



The Black Crowes – Amorica (1994) – A foto foi tirada das páginas da revista masculina Hustler, exibindo uma virilha feminina vestindo um biquíni com a bandeira dos EUA. O visual de Amorica não causou uma boa impressão nas redes de lojas, resultando numa devolução de muitas cópias e por isso a capa foi substituída.


Moby Grape - Moby Grape (1967) - O primeiro disco dos californianos psicodélicos do Moby Grape. Por conta da imagem do baterista Don Stevenson mostrando o dedo do meio ao lado de seu colegas de banda, o disco teve que ser recolhido logo depois de seu lançamento. Hoje em dia a capa está sendo usada novamente.


Roxy Music - Country Life (1974) - O disco trazia na capa as modelos Constanze Karoli e Eveline Grunwald seminuas. Em alguns países (como EUA, Espanha e Holanda) isso foi motivo para censura. A capa então foi substituída por outra em que as modelos não apareciam.


Brujeria – Matando Gueros (1993) – Brujeria numa tradução livre seria  a nossa chamada “macumba”. A banda mexicana de fato é bem estranha.  Toca algo como uma mistura sonora do thrash-death-grind, com letras que fazem apologia à revolução zapatista mexicana, ao satanismo e críticas aos  Estados Unidos. Em algumas loja do México e EUA, o disco não foi aceito devido à sua capa muito forte: a imagem de uma cabeça de homem separada do corpo.


David Bowie - Diamond Dogs (1974) - Depois de toda a piração em torno de Ziggy Stardust, Bowie resolve abraçar a apocalíptica obra de George Orwell (1984). De concepção meio que experimental, não é um disco que retrata com nitidez o talento de Bowie, mas é um álbum pra se entender um pouco o que foi glam-rock. A censura foi discreta, reparem no meio das pernas da metade cachorro.


Hurricane - Slave to the Thrill (1990) – Terceiro disco da banda norte-americana. “Slave To The Thrill” foi também o único disco em que Doug Aldrich fez parte da formação dos Hurricane, antes de sair para formar os House Of Lords. Foi censurada por causa da foto da mulher nua e teve a capa substituída por uma outra sem a modelo.


Katy Perry – One of the boys (2008) - Recentemente a capa do álbum de Katy Perry foi censurada na Arábia Saudita por mostrar as pernas e braços da cantora, o que não é permitido para mulheres no país. Assim foi criada uma capa em que os braços e pernas foram tampados.


Gal Costa - Índia (1972) - Lançado em 1972 o disco teve sua capa censurada no Brasil, por ser considerado muito explícito para ficar nas prateleiras. A solução foi manter a capa, porem vender o disco dentro de um plástico azul.


Tom Zé – Todos os Olhos (1973)  - Por muitos anos acreditou-se que a capa do disco “Todos os Olhos” , do irreverente  tropicalista Tom Zé,  fosse uma foto de uma bolinha de gude fixada  em um ânus de uma modelo.
O objetivo  do poeta concretista Décio Pignatari,  na época o produtor visual do disco, era o de confrontar a forte censura da ditadura militar tupiniquim. E essa versão foi mantida até há pouco tempo.
Entretanto, a idéia não foi concretizada devido à dificuldade encontrada no momento de fazer a produção fotográfica. Assim, a solução encontrada foi a de colocar a tal bolinha na boca da modelo.

Falarei um pouco mais sobre esse assunto num segundo post, mas por enquanto confiram a matéria da revista BLITZ.
O ditado que defende que não se devem julgar livros pela capa não é fácil de aplicar no mundo dos discos. A discoteca Carbono, em Lisboa , selecionou 100 capas de discos que chocaram o mundo e que foram banidas, censuradas ou relutantemente toleradas.
A BLITZ foi à exposição e leva até si oito páginas carregadas de capas polêmicas e explica-lhe as razões (nem sempre muito óbvias) pelas quais elas foram alteradas ou mesmo proibidas. 
Confira mais capas esquisitas e censuradas em 'As 100 capas que chocaram o mundo'.