Love Hurts nunca mais? - Dan McCafferty do Nazareth anuncia a aposentadoria

Foto: K. Bueno
Ainda não tive tempo de escrever a respeito desse assunto muito comentado nos blogs e sites de fãs da banda, porém não poderia deixar de prestar meu pesar e também minha homenagem a um dos melhores cantores de Hard Rock Setentista, o mago dos cabelos brancos, Dan McCafferty. É com grande tristeza que recebi a notícia de Dan deixou os vocais do Nazareth devido a problemas de saúde, após a tentativa frustrada de cantar em dois shows: um na Suiça, no qual o veterano desmaiou no palco, fato que gerou rumores que ele havia sofrido um derrame; e no mês passado, o mesmo ocorreu no Canadá. Ambos os incidentes fizeram a banda cancelar futuras apresentações.
Após ter que abandonar duas vezes o palco, o vocalista Dan McCafferty anunciou que sua carreira chegou ao fim: “Tenho um problema de obstrução pulmonar crônica. Ele tem piorado com o passar dos anos. Você está bem e, do nada, não consegue respirar. Não posso continuar assim, é constrangedor para mim e a banda”, revelou o músico à Classic Rock Magazine.
Há rumores de que a banda irá continuar sem Dan, foi um pedido dele, mas com certeza não será a mesma coisa. Billy Rankin, guitarrista do Nazareth nos álbuns Snaz, 2XS, Sound Elixir, No Jive e Move Me, revelou à Total Rock Radio que foi convidado para um ensaio com os antigos colegas. Mas não para reassumir as seis cordas, e sim, como postulante à vaga aberta após a aposentadoria do vocalista Dan McCafferty. O convite veio do baixista Pete Agnew, único membro original restante na formação.
Quando soube, caí na risada. Pete telefonou e o questionei sobre o motivo de considerarem a mim. Ele citou o fato de eu cantar bem e já termos uma história juntos, o que fazia sentido. Fizemos um ensaio e tocamos alguns hits. Concordamos que foi sensacional. Mas estava faltando Dan. Agradeci a lembrança, mas recusei o convite”, disse o músico, hoje DJ da rádio onde deu a declaração.

Foto: K. Bueno

Depois de desativada por alguns dias, a página que mostra as próximas apresentações do grupo voltou a constar do site oficial do Nazareth, retirando qualquer dúvida acerca de um possível fim da banda neste momento. O Nazareth quer seguir adiante e as audições para escolha do substituto de Dan começaram há algumas semanas e eu imagino a dor de cabeça que tem sido para Pete Agnew (fundador do grupo e único membro original em atividade) encontrar alguém com o potencial, extensão e qualidade vocal que se aproxime ao de Dan. Além disso, é preciso que seja uma pessoa que consiga cativar os fãs com simplicidade, bom humor e humildade, características típicas do vocalista que recém se aposentou.
Substituir um guitarrista, baterista, baixista, é um pouco mais fácil do que o vocalista que é a alma da banda. Isso aconteceu recentemente com o Gotthard depois da morte trágica de Steve Lee. A banda substituiu o vocalista, mas parece que perdeu a sua essência, falta a voz rouca e imponente de Steve e suas performances memoráveis. Mas também temos exemplos de sucesso, como o da banda ACDC que substitui Bon Scott por Brian Johnson em 1980, temos também o Black Sabbath que substitui Ozzy Osbourne por  Ronnie James Dio no mesmo ano e o Iron Maiden, com a saída de Paul Di'Anno e a entrada de Bruce Duisckinson, e muitas outras bandas que se mantiveram na ativa com outros vocalistas.
Foto: Diego Kloss
É óbvio que o novo vocalista do Nazareth será recebido com reservas pela grande maioria dos fãs e terá que matar um leão por dia para mostrar que merece o posto. Fica aqui o desejo de que o Nazareth continue a carreira e que os que ficaram representem os músicos que integraram a banda em suas várias formações. Dois deles, aliás, já nos deixaram: o baterista original Darrel Sweet e o tecladista John Locke.
Enfim, felizmente eu tive a oportunidade de ver um excelente show da turnê “Big Dogz Tour” do Nazareth, que aconteceu em Curitiba no dia 24 de fevereiro de 2011 e gostaria de compartilhar com vocês a resenha que escrevi como forma de homenagem a Dan.
Hoje vou falar apenas como fã e apreciador do Nazareth. Claro não posso deixar de dizer como conheci o Nazareth. Meu tio tinha uma fita do clássico do álbum "2xs" e a primeira música que ouvi foi "Love Leads to Madness” (1982). Perguntei aos 8 anos (1996): que banda é essa? Meu tio disse: é o Nazareth. Depois desse fato, na minha adolescência passei a curtir não só Nazareth, como todas as bandas do rock clássico como Scorpions (minha banda favorita), ACDC, Iron Maiden e por aí vai. Mas isso não vem ao caso, vou falar de um show memorável...
Como sempre em Curitiba, choveu no dia do show, exatamente quinze minutos antes de entrarmos, mas como sou um cara precavido levei as capas de chuva (meu pai levou, se fosse por minha conta tinha tomado um banho). Dan até disse em uma entrevista que gosta de Curitiba por que o clima é bem parecido com o da Escócia, só que lá é bem mais frio. Mas enfim, entramos e pegamos um bom lugar. Às 22h 30 entrou a banda já conhecida de vocês, o Motorocker, a qual conheci a pouco tempo. Eles fizeram um barulho ensurdecedor, tocaram seus sucessos “Igreja Universal do Reino do Rock”, “Blues do Satanás”, “Tocando Horror”, entre outras. Além disso, levaram o público ao delírio com "Rock na Veia" e um clássico do ACDC "You Shook Me All Night Long".

Foto: Diego Kloss

Exatamente às 0:15 começou uma gaita de fole, a luz do palco ficou roxa e começaram a entrar os integrantes do Nazareth: Pete Angnew (Baixo), Jimmy Murison (Guitarra), Lee Agnew (Bateria). Um pouco antes de começar a primeira música entrou Dan McCafferty (Vocal), ovacionado pelo público e sem grandes surpresas a primeira música foi "Siver Dollar Forger" (Rampant - 1974). Na sequência veio "Razamanz" (Ramamanz - 1973), destaque para o solo moedor de Jimmy Murison (Guitarra). Após a "This Month´s Messiah" (The Cath - 1984), Dan gritou: Olá Curitiba! Eu gosto desse lugar, eu me sinto em casa. E ainda disse muito modesto: Vocês são muitos bons. - aplaudindo o público. E continuou: Essa é uma música romântica... A luz baixou e começa uns dos momentos mais inesquecíveis do show..."Sunshine" (Rampant - 1974) com um violão de Jimmy e um coro de arrepiar acompanhando Dan a música inteira. Na segunda parte da música eu já estava com nó na garganta.

Foto: Diego Kloss

Na música seguinte, quem não pulou não é um verdadeiro fã do Nazareth, até acertei a mulher que tava na minha frente, mas era simplesmente "This Flight Tonight" (Loud 'N' Proud - 1973). Aí começou "See Me" do álbum mais recente The Newz -2008. Destaque para o momento em que Dan puxou a palma da galera e deu uma dançandinha: virou de costas, puxou a camisa e deu uma rebolada, muito engraçada. Em "My White Bicycle" (From The Vaults - 1993), Dan, como sempre, fez o gesto de cheirar cocaína e cantou a música. 
Uma das horas mais emocionantes do show foi o clássico "Dream On" (2xs - 1982), na qual tinha uma até uma reverberação na voz do Dan e todo mundo cantava junto. No final da música Dan puxou umas três vezes um “Dream” e a galera respondia “On”. Na sequência, eles tocaram "Bad, Bad, Bad Boy" (Ramamanz - 1973), "Whisky Drinkin Woman" (Hair of the dog - 1975) com Dan dizendo "Essa é para as femeninas" e por fim "Changing Times". Depois veio Hair of the Dog (Hair of the dog - 1975), com destaque para o famoso solo de Dan.

Foto: Diego Kloss

Eles saíram e foram baixadas duas bandeiras: uma da Escócia e outra do Brasil. O Lee entrou filmando a galera, o pai entrou fazendo pose e o Dan deu risada do estilo do figura, depois disse: Muito obrigado! E começou a cantarolar o início da penúltima música "Love Leads To Madnees" (2xs - 1982), o ápice do show na minha opinião. Simplesmente a minha música favorita, a primeira música que ouvi do Nazareth. Cantei inteirinha e gritei muito, assim como todo o público presente. Como Dan disse, essas músicas não podem faltar num show do Nazareth, para um público exigente.
Foto: Diego Kloss
Baixou a luz novamente e entrou Love Hurts (Hair of the dog - 1975), um clássico rock Love Songs dos anos 70, indescritível. Se eles não tocassem essa não era o Nazareth, é que nem o Scorpions sem "Wind of change" e faltou essa naquele show, não adianta negar. Nessa hora eu já estava na grade e a galera cantando junto. E por fim "Broken down angel" (Ramamanz - 1973).
Um show inesquecível repleto de clássicos e para quem esperava músicas novas ficou meio atônito, afinal seria o lançamento do álbum "Big Dogz", mas para o verdadeiro fã do Nazareth ou para quem, no meu caso, pela primeira vez foi a um show dessa banda, eles não precisavam cantar mais nada.
O problema é que ele não vai cantar mais nada, infelizmente. Eis que chega um momento complicado para um ícone do rock: o difícil momento de encarar o término de uma carreira marcada por inúmeras apresentações ao vivo. Pórem, é como eu disse em outros posts, nossas bandas clássicas favoritas estão envelhecendo e a maioria vai encerrar suas atividades em breve.

Foto: Diego Kloss

Nos resta aproveitar a oportunidade de ir nos shows e ouvir os vinis dessas bandas, afinal esses últimos sim duram por um longo tempo.
Um agradecimento especial ao mestre Dan McCafferty, que cumpriu com maestria sua missão e é sem sombra de dúvida, um dos melhores vocalistas do Hard Rock.

Let´s Ramanaz