Conexões 04 | Lado A Discos bate-papo com Luis Cilho

Quarta entrevista da seção Conexões, com a competência do nosso parceiro Neigmar Vieira do Lado A Discos, entrevistando Luis Cilho, um dos principais beatmaker/produtores do Hip-Hop de Curitibano.

Nei: 1 - Corrija – me se eu estiver errado, mas também vejo você como “beatmaker” correto? Como é o dia a dia de um “beatmaker”?
Luis Cilho: Salve salve Lado A e geral que está na sintonia! Sim sou beatmaker e produtor. Acredito que o primeiro passo na criação de Beats é muita pesquisa, digo isso porque um dos conceitos básicos da produção do RAP vem do “sample”, e esse sample geralmente é encontrado e recortado de músicas mais antigas, há quem use também músicas mais atuais, mas eu prefiro trazer a raiz das décadas de 70 ou 80 e misturar com timbres atuais, criando algo totalmente novo, e em até certos casos, bem experimental. É como se fosse uma terapia, em alguns instrumentais fico horas, dias trabalhando em cima, gosto muito de “viajar” nesse mundo.

Foto: luiscilho.blogspot.com.br/
Nei: 2 - Alguns nomes do Rap nacional tem ganhado força na música brasileira nos últimos anos (Criolo, Emicida, Kamau), a que você atribui esse reconhecimento?
Luis Cilho: O discurso do Rap mudou bastante, abrange mais “tribos” da sociedade, a “roupagem” das músicas, (na minha visão) também evoluiu, antigamente tinhamos Rappin Hood fazendo Rap com Samba e “Nossa! Ele fez um Rap com Samba!”, aí veio o D2 e tomou conta do estilo, muito bem por sinal. Agora já vemos o Criolo misturando vários estilos musicais com o Rap num só cd, ele tem o Ganjaman na produção, que é um músico de primeira e deixa tudo em harmonia, tipo maestro.
O Criolo canta, faz rima, poesia, eu particularmente curto essas criações, me inspiram. Mas confesso que o que me fascina mesmo no Rap é o famoso “Boom Bap”, com bumbo grave, caixa “seca”, flow pesado, e ideia de responsa!

Nei: 3 - Vendo uma entrevista sua no youtube para o programa RevistafreeX , você comentou sobre a auto-estima “meio baixa” do brasileiro. Como você chegou nesse aspecto da personalidade do nosso povo?
Foto: luiscilho.blogspot.com.br/
Luis Cilho: Eu presto muita atenção em todo lugar que vou, sempre to ligado no que acontece em minha volta. No semblante das pessoas você enxerga muito, no ônibus, na rua, na internet, é fácil ver gente estressada e triste, acredito que boa parte das pessoas não faz o que gostaria de estar fazendo, e isso de certa forma gera uma baixa na auto-estima.
Acredito que todo mundo deve estudar o que gosta aprimorar seus conhecimentos, e ter um hobby, para usar como cano de escape desse sistema opressor que impera no Brasil, e assim tentar transformá-lo em profissão, eu fiz isso, lógico, ainda não estou 100%, ganhando meu milhão de reais, mas meu nível de stress é baixo, faço o que gosto e sei onde quero chegar e o que posso conquistar com meu esforço. Isso me dá muita motivação pro futuro, gostaria que mais gente pensasse assim, mas é apenas meu ponto de vista.

Nei: 4 - Na mesma entrevista você disse que lê muito. Qual o último livro que você leu e por quê?
Luis Cilho: Estou lendo o livro do Tim Maia, risadas garantidas! De uns tempos pra cá tenho lido mais artigos e blogs diversos na internet, variados assuntos. O último livro que li foi o do Nelson Motta “Noites Tropicais”, que fala da história dele pela música brasileira, desde João Gilberto (o qual sou fã de carteirinha), até a época da Blitz, o livro é sensacional! Gosto muito da música nacional dos anos 70. É bom saber a história dos meus ídolos, e o Nelson Motta escreve muito bem.

Nei: 5 - Nessa última questão fale um pouco sobre a sua discografia, participações especiais e planos para o futuro.
Luis Cilho: Cara já participei de tanta coisa! Vou citar as principais. Em 2005 junto com Bigue, Karol Conká, Cadelis, Cabes e Jeff Bass realizamos o primeiro cd oficial que participei “Mixtape Agamenom”, mas o grupo não durou muito, aí segui minha carreira de artista solo e me juntei ao Cabes no estúdio Track Cheio. Lançamos 2 coletâneas “Track Cheio Independente”, lancei 2 EPs meus, respectivamente, “Hoje” e “Amanhã”, além de ter participado do processo de produção e mixagem de diversos discos que o estúdio já lançou, mais de 40!
Tem tudo lá no site www.trackcheio.com na sessão de downloads. Uma participação que gosto muito é de um vídeo que tem no youtube “Negomundo – Salto 15″, e dos vídeo-clipes do Cabes MC e Ant, os quais também fiz a produção executiva. Atualmente trabalho na direção de um clipe do ZGK, coletivo que faço parte e reúne nomes como Dario, Nave, Laudz, Cadelis, Bigue, Ant, Cabes, Nairobi, Thiago Pródigo, Hurakan,  e estou também fazendo meu disco oficial pra 2014 intitulado “Amanhã”. Ufa! É coisa hein, a correria não para nem quando estou dormindo!
Gostaria de agradecer o convite e deixar um salve pros amantes da cultura do vinil e leitores do blog! Valeu!



Sobre Luis Cilho (informações do blog)
Luis Gustavo "Cilho" começou a escrever rimas e produzir beats no ano 2000. Porém foi em 2005, já com conhecimento de softwares de produção e boas idéias que começou a dar seus primeiros passos no rap com o grupo Agamenom e junto com Cabes na produtora Track Cheio.
O primeiro EP de Luis Cilho "ONTEM" traz em suas cinco faixas músicas sobre como não se render ao cotidiano estressante que toma conta da população em tempos de "correria". O EP conta com produções de Dario, Laudz e do próprio Cilho.
"HOJE", é o seu novo trabalho, que trata de temas simples, básicos e necessários que a sociedade acaba se esquecendo ao passar dos anos. O trampo traz produções de Tiago Miotto, Cabes e Nave e tem participações de Amanda Farias, Thomas Kossar e Rodrigo Tuchê, a arte ficou por conta de Diogo Azê.
Luis Cilho e Cabes MC - Foto: luiscilho.blogspot.com.br/
Com suas rimas, além do seu EP, já participou da Mixtape Agamenom (2005), das mixtapes "Bum Clap" (2005) e Coletânea Zero Grau Vol.01 (2006), além de diversas outras coletâneas e singles, mais recentemente no CD do MC Cabes "Pra Onde as Pessoas Vão" e no projeto "NêgoMundo live at Click" na música Salto 15. Como produtor, já participou dos seguintes trabalhos: Magú - “Esses Dias“ (2008), Cabes - "Todo Dia É Assim" (2009), Ep - “O Komboio” - SP (2009), Coletânea Track Cheio Independente (2009), 100Sort - "Codinome Azearre" (2010), Ant - "As do Ant" (2010), Beat Tape ilovecwbeats (2010), Cabes - "Pra Onde as Pessoas Vão"(2011). A lista continua com inúmeros artistas do cenário curitibano e nacional do rap com diversas produções e singles.
Atua nos palcos junto com o produtor/mc curitibano Cabes, ao lado dele já se apresentou em grandes shows/eventos em Curitiba como: “I Love CWBeats”, "Festival Sallve Yo", “Hip Hop Casa Cheia”, show da tour 2010 de “Afrika Bambaataa”, "EP Ontem no Estudio AudioAtaque", “Cerimônia de Mestres", fora as inúmeras participações em shows do cenário local. Já se apresentou em outros estados como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No exterior conta com um show em Assuncion/PY.
Atualmente trabalha com produção, mixagem, edição e sonorização, em seus próprios projetos e também com variados nomes do Rap e da música brasileira, que por sua vez, é a raiz e principal influência do artista/produtor, tanto em suas rimas quanto em suas batidas.

Pra conhecer um pouco mais sobre Luis Cilho visite:
http://luiscilho.blogspot.com.br/

Para ouvir os últimos sons visite:
www.soundcloud.com/luiscilho

E pra conhecer um pouco mais do trabalho que Luis Cilho realiza no estúdio Track Cheio visite:
www.trackcheio.com