Vou tratar hoje de um assunto que gera uma certa polêmica no mercado e mundo dos colecionadores de vinil. Estava lendo essa semana, um artigo que saiu no site da Polysom que derruba definitivamente o mito de que o vinil 180g possui melhor qualidade que os vinis de gramaturas inferiores, mas como sempre, não me convenci e não aceitei essa informação como verdade absoluta. Assim, resolvi pesquisar um pouco e irei compartilhar essas informações e também a minha opinião a respeito desse assunto.
Primeiramente vou discorrer sobre as prensagens brasileiras entre as décadas 1970 e 1980. Em seguida, irei comentar os prós e os contras em torno do mito do vinil 180g, dando ênfase ao artigo publicado pelo engenheiro de som da Polysom, Oswaldo Vidal. E por fim, farei uma conclusão, tentando por um ponto final sobre esse assunto. Lembro que minha opinião não é uma verdade absoluta, pois não sou audiófilo e nem físico, porém sou pesquisador e colecionador de vinis com mais de 7 anos de experiência.
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Vinis coloridos de baixa qualidade. |
Além disso, a matéria prima do vinil era importada dos EUA, na base do dollar, com o preço muito elevado. Inclusive, durante a crise do petróleo, chegou-se a produzir vinis de 90g de péssima qualidade. Mas ainda sim, existiram algumas prensagens de 130 a 160g com vinil da melhor qualidade, com a fórmula correta do PVC. Um exemplo disso, são alguns vinis lançados pela Som Livre, EMI e RCA.
Box de 5 Lps "50 anos de Boemia" de Nelson Gonçalves, produzido pela RCA, em 1985. Foto: Diego Kloss |
Assim essa desinformação da imensa massa consumidora, aliado à limitações econômicas e técnicas das próprias gravadoras da época, tornaram o Brasil um péssimo produtor de vinil, comparados logicamente, com os caríssimos vinis importados de 130g a 200 gramas, com excelentes processos de masterização e prensagem.
Vinil "Keeper of the Seven Keys" do Helloween, produzido pela Noise Records em 1987 e prensado na Corea. Foto: Diego Kloss |
Uma análise definitiva sobre a relação entre gramatura e qualidade do som.
Em determinado momento, alguém espalhou a informação de que um LP de 180 gramas tem melhor qualidade do que discos de gramatura menor. Como se pode ver no texto abaixo, escrito pelo engenheiro Oswaldo Vidal, que esteve à frente das fábricas de vinil das antigas Polygram e CBS, tal afirmação chega a ser um atentado à própria Física. Os sulcos são todos da mesma largura e profundidade (variando de acordo com o som que se “corta”). O som é o mesmo em um disco de 140 gr ou de 180 gramas. A única coisa que muda é a experiência tátil do ouvinte que vai colocar o disco na pick up. Observe que DJs, os caras que entendem de som, preferem discos de gramatura menor, porque os mais pesados só aumentam o peso de suas mochilas. Há fábricas magníficas no exterior que só produzem discos de 130gr ou 140gr. Uma delas chegou a usar a seguinte frase bem humorada em seu site: “We don't care what American Scientists say! 140 grams of vinyl offer perfect balance between pressing, sound and weight. Everything beyond that is a waste of material. Ask your dad!”. A brincadeira de se perguntar ao pai é porque, antigamente, não havia essa bobagem de se fazer discos mais pesados, a maioria pesava abaixo de 130 gramas. Quando houve a crise do petróleo, então, chegou-se a fabricar vinis até com 100 gramas.
Vamos à explicação técnica.
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Fotos microscópicas do sulco do vinil. Foto: Chris Supranowitz |
Vinil 180g "Los Hermanos", produzido pela Polysom, em 2009. Foto: Diego Kloss |
Dessa forma, a alta gramatura torna o vinil imune a “ressonância de cancelamento", ou seja, o vinil mais pesado possui logicamente mais massa, e ela tem efeitos determinantes na inércia molecular. Assim, não podemos levar em conta somente o tamanho e profundidade de sulco, como afirma Oswaldo Vidal.
Vinil 180g "Privateering" de Mark Knofler, produzido pela Mercury, em 2012. Foto: Diego Kloss |
Por conta disso, o som do vinil é o resultado da interação do ambiente em que é tocado e para minimizar ao máximo a interferência sonora, alguns audiófilos colocam o toca-discos e as caixas de som em ambientes separados. Alguns chegam ao extremo de instalar o toca-discos em estruturas de aço com tecnologias de suspensão a vácuo, em um ambiente absolutamente imune de vibrações e irradiação. Mas creio que nós, colecionadores e amantes do vinil, não precisemos chegar a esse extremo para ouvir um bom som. É necessário colocar o toca-discos de boa qualidade e um rack maciço e pesado, mantendo as caixas ligeiramente afastadas do aparelho, bem como usar agulhas, cápsulas, amplificador e um sistemas de som com boa qualidade, além é claro de manter o vinil sempre limpo.
Toca-discos do sebo acervo Almon. Foto: Diego Kloss |
Nesse caso, os discos pesados levam vantagem, pois a massa influencia tremendamente na inércia dos movimentos moleculares e a vibração é quase anulada quando se depara com um vinil pesado. É válido ressaltar porém, que um disco de vinil de baixa gramatura, tocado, nas condições citadas anteriormente, também possuirá uma boa qualidade sonora.
Vinil 120g importado do "Black Alum" do Metallica produzido pela Elektra Records em 1991 e relançado em 2010. Foto: Diego Kloss |
Vinil 180g "Random Memories" do Daft Punk, produzido pela
Columbia Records e Sony Music, em 2013.
Foto: Diego Kloss
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Sebo Hi-Fi - Curitiba. Foto: Diego Kloss |
Sebo Baratos da Ribeiro - RJ. Foto: Diego Kloss |
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Série de Picture Discs do Iron Maiden, produzido pela EMI, em 2012. |
Vinil 180g Colorido "Stay Hungry" do Twisted Sisterr, produzido pela ST2 em 1984 e relançado em 2010. Foto: Diego Kloss |
Dessa forma, a melhor maneira de conseguir uma gravação de qualidade é fazer uma pesquisa de qualidade, disse Craig Kallman, presidente e executivo-chefe da gravadora Atlantic, que possui uma das maiores coleções de vinil do mundo. Para ficar realmente seguro, entre na Internet e leia os blogs — disse ele. Existem tantas variáveis que realmente não dá para simplesmente confiar apenas na etiqueta que diz "vinil lacrado de alta fidelidade ou 180 gram".
Vinil 180g "13" do Black Sabbath, produzido pela Vertigo Records e Universal Music em 2013. Foto: Diego Kloss |
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Nesse caso, pode confiar no selo. Foto: Diego Kloss |
Vinil 100g "Tokyo Tapes" do Scorpions, produzido pela RCA em 1979, com prensagem nacional. Foto: Diego Kloss |
Vinis secando. Foto: Diego Kloss |
Referências
Polypedia - Peso vs. Som
http://polysom.com.br/polypedia/index.php?title=Peso_vs._Som&action=edit
Os segredos de um vinil de alta qualidade - Roy Furchgott
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2012/06/os-segredos-de-um-vinil-de-alta-qualidade-3790094.html
O que muda com a gramatura do vinil? - Michell Niero
http://midiatorium.pensomidia.com.br/o-que-muda-com-a-gramatura-do-vinil/
Os Vinis Brasileiros das décadas de 70 e 80: O Problema da Gramatura do disco de vinil - Joaquim Martins Cutrim
http://vinilnaveia.blogspot.com.br/
Ótima matéria. Bem elucidativa.
ResponderExcluirObrigado por ler.
ExcluirPesquisei bastante para fazer a matéria.
Grato pelas informações, ajudou a entender melhor a reprodução sonora a partir do vinil !
ResponderExcluirObrigado Cyberogan...
ExcluirQualquer dúvida estou à disposição.
ruim. para artigo técnico - plural de micron = micra! estão desviando do assunto para falar bobagem- djs preferem vinis 45 rpm, acoima de 130g, para que não deslizem no split. "inércia" meu caro! o princípio que mantém o mundo a se mover. em todo o sempre um vinil mais encorpado será melhor...retifique! querendo precificar bofeira?
ResponderExcluirOlá Amigo...
ExcluirRealmente o texto da polysom é muito ruim para um artigo técnico.
Só não ficou claro se suas colocações finais se referem ao artigo da polysom ou ao texto que elaborei.
Esclareça melhor sua colocação para que possamos debater o assunto.
De qualquer obrigado por ler o blog...
outra. como o sulco pode ser um triângulo isósceles com ângulo de 90º ?
ResponderExcluirO que o Oswaldo quis dizer talvez é que a agulha possui o formato de um triângulo isósceles e faz um ângulo de 90º com o vinil.
ExcluirGostei do texto, Diego. Minha opinião é também, que muitos fatores influenciam a qualidade sonora. Começando pelo próprio toca discos. Já li matérias em que é citado, que o braço do toca discos NUNCA pode ser desmontado para reforma, pois perde a regulagem de fábrica e fatores como a tangência, não é mais recuperada. Apesar de esse não ser o assunto em questão (toca discos), acho que qualidade já parte daí. Em relação aos 180g, minha opinião e que entre os 130, 160 e 180, claro que se comparar com a mesma masterização, como você citou, ainda acho que o 180 tem uma qualidade melhor. Eu, particularmente, sempre opto pelos 180g quando possível. Ao meu ver, a qualidade é superior em tudo, desde capa e vinil mais encorpados, etc. Gosto de apreciar a obra toda, o conjunto... e as edições de hoje em 180g são maravilhosas. Enfim... ótimo texto. Parabéns pela pesquisa e por estar colaborando com informações, que pra nós, que apreciamos o vinil, é sempre bem vinda e importante. Grande abraço!
ResponderExcluirOlá Anderson...
ResponderExcluirObrigado por ler o blog. Sempre busco trazer boas informações para meus leitores. Quanto a qualidade de som você tem toda razão, todos os fatores influenciam, desde caixas, pré-amplificador, agulha, toca-discos, ambiente, até as coisas mais simples, como cabos, conectores, superfície, etc. Ainda pretendo fazer uma matéria completa a respeito dos fatores que influenciam a audição analógica.
Abraço
Parabéns e obrigado, Diego Kloss, muito bem feito o texto, alguns pontos que nunca havia lido com a forma que vc abordou... e só o fato de trazer esses pontos ao público em geral, já valeu!
ResponderExcluirMuito explicativo, porém pouco elucidativo... para quem entra aqui via busca do google com uma pergunta em mente "mas, afinal, faz diferença a gramatura do vinil?", a resposta foi um sonoro "talvez sim, talvez não". Ora, a não ser que eu tenha 3 ou 4 cópias diferentes do mesmo disco, fabricados em gramaturas variadas, feitos em países diversos e em épocas distintas, não há como saber se aquele disco que eu tenho em mãos é do bom ou do ruim. E mesmo assim, preciso compará-las em um baita aparelho, com uma agulha foda e num ambiente bem planejado.
ResponderExcluirInfelizmente é uma questão bem complicada de se responder porque depende de muitos fatores, mas os principais estão citados no post: o processo de masterização e o conjunto ambiente e sistema de áudio analógico.
ExcluirPara se divertir ouvindo rock n' roll e metal em vinil não precisa de tanta frescura. Mas concordo que um bom equipamento produz um som com mais qualidade.
ResponderExcluirMas acho perda de tempo ficar se preocupando com isso.
Pegue qualquer vitrolinha e divirta-se.
Olá amigo do blog e demais leitores, gosto muito de Iron e os Disco prensagem atual (estou por comprar alguns para agregar aos meus ja batidos de época) estão vindo em picture, alaguem saberia me informar especificamente aos do Iron se estes pictures são de baixa qualidade?
ResponderExcluirOlá Claudio. Primeiro conselho, não venda os teus vinis de época.
ExcluirOs pictures discos são realmente bonitos, tenho vários do Iron Maiden, mas a qualidade do som não é realmente muito boa. Quando você coloca para ouvir, antes da música começar vc percebe um chiado contínuo bem sutil que fica o disco todo, as vezes imperceptível. Na real não atrapalha em nada a audição, mas o som fica mais choco se é que você me entende. Não se é por causa do processo de gravação ou prensagem, mas eu prefiro o bom e velho vinil preto.
Espero ter ajudado
Boa noite,muito bom o post!!!Sou Dj e voltei a comprar vinil exatamente por causa desse booom...Meu forte final dos anos 90,90 e 2000.E a lacuna que voltei a comprar!Entao compro a grande maioria importado (aqui no Brasil quando acho ou pelo Discogs).Tenho varios "piratas" que estou trocando pelos importados,mais te falar tenho uns que nao troco/vendo por nada...Qualidade nota 10!Mais uma vez post excelente!!!Forte abraco.
ResponderExcluirObrigado por ler o blog.
ExcluirBom você ter voltado a comprar discos, possuem uma qualidade muito superior.
Abraço
Interessante!
ResponderExcluirVamos por partes:
ResponderExcluir1º - A esmagadora maioria dos discos prensados atualmente tem como fonte uma gravação DIGITAL. Assim, comprar discos de vinil novos e achar que se está ouvindo som analógico é um grande engano. Para ouvir vinis com gravação, mixagem, masterização e prensagem legitimamente analógicas, prefira as prensagens anteriores a 1986.
2º - As frequências de cancelamento só existirão, na prática, em níveis (volumes) muito altos, em ambientes despreparados acusticamente e com vinis muito leves (gramatura baixíssima, abaixo de 100). Fora essas questões, o fato do peso (gramatura) ou espessura do vinil (como preferir) influenciará muito pouco no resultado auditivo. As questões mais importantes são (e sempre serão) AS ORIGENS das master: gravação, mixagem, masterização e prensagem.
Ao meu ver o importante é o resultado final! Se o remaster foi captado de um processo digital e o seu áudio for superior a versão original. Não vejo nenhum problema com isto!
ExcluirSecar o Vinil com secador no modo frio para tirar o resto de agua não pode ? Porque ?
ResponderExcluirOlá Wladimir
ExcluirSecador em modo quente pode empenar o vinil.
Secador em modo frio joga poeira num vinil que você acabou de lavar.
Recomendo deixar secar naturalmente e antes de ouvir usar sempre um pano aveludado e preferencialmente uma escova anti-estática.
Pra saber se o vinil tem qualidade no áudio temos que observar wuem gravou? (A gravadora) me indique uma boa
ResponderExcluirMuito bom o artigo.
ResponderExcluirNota 10.
Obrigado Carlos
ExcluirQualquer dúvida estamos à disposição.
O vinil tem todo um ritual mágico.
ResponderExcluirA começar pelo tamanho, que fornece uma visualização perfeita das capas, que são verdadeiras obras de arte, geralmente transmitindo imagens atreladas ao som, além das descritivas dos estúdios, detalhes técnicos da gravação, instrumentos e dos músicos.
O manuseio com cuidado cria o clima de expectativa da audição.
O colocar da agulha no vinil respeitando o cuidado requerido.
ATÉ O PERFUME EXALADO PELO BOLACHÃO, É ALGO QUE OUTRAS MÍDIAS NÃO TRANSMITEM.
SÓ MESMO QUEM VIVEU ESSE PERÍODO, SABE VALORIZAR A TRIP.
Isso mesmo Carlos...
ExcluirPerfeito =)
Em primeiro lugar obrigado pelo o artigo, pois é bem informativo e muito interessante. Outro detalhe, que torna a audição de um vinil uma decepção, são os sulcos mal centralizados que ao reproduzir, causa oscilações horríveis muito perceptíveis em toca discos de baixo e médio custo. Antes de ler, já desconfiava que o Brasil era um péssimo produtor de discos, além de um som ruim, a maioria dos discos como esses coloridos que você mostrou na foto eram campeões no quesito som ruim e oscilação, os sulcos tinham oscilações que chegavam a 5 milímetros, pois eu tinha um vinil amarelo daqueles Carroussell, que quem tinha ouvidos mais exigentes, não conseguia ouvir dois minutos do disco de tanta oscilação que dava ao reproduzir.
ResponderExcluirPerfeito Daniel, se vc quer uma boa gravação infelizmente precisa recorrer a versões importadas. O problema é o preço com esse dolar em alta. Está cada vez mais difícil e caro importar discos.
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