Toca-discos 02 | Como regular e nivelar o toca-discos

Vários leitores já me fizeram perguntas sobre regulagem e nivelamento de toca-discos e por isso, depois de muita pesquisa e levantamento de informações em sites e com alguns colecionadores do Clube do Vinil e Toca-Discos de Curitiba, resolvi fazer essa página dando dicas de como cuidar do seu toca discos para que ele funcione da melhor maneira possível. Mas como a página ficou bem extensa, resolvi dividir o conteúdo em partes para facilitar o acesso e melhorar a dinâmica de leitura.
Na segunda parte, darei dicas de como regular e nivelar seu toca-discos da maneira correta.
Lembro que os métodos são apenas sugestões, você pode conferir métodos diferentes em outros sites. Assim, a escolha por esses métodos seguem por sua responsabilidade. O blog não se responsabiliza por qualquer dano material ou físico ocasionado pela aplicação incorreta das instruções e procedimentos.
É importante salientar também que não sou audiófilo, nem engenheiro de som, por isso o que você vai encontrar aqui é um resumo do que eu encontrei na web e conversei com colecionadores e vendedores de vinil, além é claro, da minha própria experiência.
Esta página está em constante atualização, por isso se você tiver dúvidas ou sugestões, mande um email ou deixe um comentário.
3) Regulagem e nivelamento do toca discos
Uma cápsula fonográfica está desenhada para seguir os sulcos do vinil e converter suas irregularidades em impulsos elétricos que serão amplificados para serem ouvidos. Para isso, a agulha está projetada para trabalhar em determinadas configurações mecânicas e geométricas que permitirão detectar oscilações da superfície dos sulcos de milionésimos de milímetro. Estas condições de trabalho poderão ser otimizadas até limites determinados somente pela sua necessidade de ouvir cada detalhe que possa ser tirado do vinil ou pela sua obsessão pessoal. Em geral, é como o preço dos componentes de high-end: os maiores benefícios são obtidos nos níveis básicos. Cada passo adicional melhora ainda mais, porém a um preço (ou tempo necessário) cada vez mais desproporcionalmente alto. Estão aqui descritos os procedimentos básicos - porém suficientes – para obter grande parte da beleza estética musical que pode ser obtida de um cápsula fonográfica curioseando os enigmáticos segredos da superfície de um vinil.
As explicações que seguem são de nível intermediário e destinadas a quem está se iniciando na audição de vinis ou para quem quer melhorar a sua instalação e são aplicáveis a toca-discos com braços pivotados.


É bom lembrar que o objetivo de um toca-discos e de uma cápsula é extrair dos sulcos a informação neles contida, sem nenhuma mudança. Para isso, devemos zelar por instalar a cápsula de acordo às especificações do fabricante e evitar - no caminho - fontes de ressonâncias ou realimentação acústica. Porque, dito em outros termos, o que os sulcos querem que a agulha faça, é diferente do que a agulha e o resto do toca-discos estão inclinados a fazer. Devemos entender a importância de cada ajuste e, para isso, damos algumas informações sobre o funcionamento que fundamentam cada passo. Para realizar alguns dos testes auditivos mencionados mais adiante não se esqueça de verificar se a agulha está perfeitamente limpa. As agulhas, que costumam ser as primeiras e únicas vítimas, são delicadas e caras, por isso cuide muito bem delas. Evite em quaisquer circunstâncias, exercer forca rotacional ou de outro tipo sobre qualquer parte do braço. Os seus rolamentos são sensíveis e não previstos para tolerar grandes esforços. A mesma precaução deve ser tomada com a cápsula e com os cabos e conectores.

3.1) Termos e abreviaturas
Prato: parte giratória do toca-discos onde se apóia o disco.
Braço: braço do toca-discos.
Cápsula: instalada na ponta do braço do toca-discos, tem a função de extrair as informações sonoras gravadas nos discos de vinil.
Eixo do braço: centro da articulação do braço.
Eixo do disco: centro do pino no centro do prato onde encaixa o vinil.
Cantilever: suporte que fixa a agulha na cápsula.
VTA: ângulo no plano vertical do cantilever com a superfície do disco).
SRA: ângulo no plano vertical da agulha (medido com a perpendicular ao plano do disco no ponto de apoio)
Azimuth: ângulo da agulha com a superfície do disco, no plano vertical frontal (perpendicular ao braço).
Zenith: ângulo do traçado da agulha no seu percurso com a tangente aos sulcos do disco, no plano horizontal.
PAA: peso de apoio da agulha sobre o disco.
Anti-skating: mecanismo de compensação da tendência do braço a deslizar internamente.

3.2) Checagem mecânica
Uma checagem mecânica geral do sistema base / motor / prato do toca-discos é essencial para garantir uma rotação constante e silenciosa. Um motor barulhento transfere o ruído em forma de vibrações tanto para a base quanto para o prato e, conseqüentemente durante a audição, para o conjunto cápsula / agulha. A lubrificação do motor é algo simples, mas que deve ser feito com o tipo de lubrificante indicado pelo fabricante do toca-discos. A mesma coisa deve ser seguida em relação ao eixo central do prato, que deve girar livremente e com baixíssima fricção. No caso do toca-discos ser tipo belt-drive (com acionamento por correia) ou por polia de borracha, a mesma deve estar limpa e desengordurada e não pode estar folgada. Uma correia folgada ou cuja borracha esteja ressecada e rachada pode estar patinando e, portanto, trazendo oscilações de velocidade. Uma boa reprodução sonora depende da velocidade estar o mais estável possível.


3.3) Manuais e ferramentas
Se você é dos que não gostam de ler manuais, deverá saber, pelo menos, o peso correto de apoio da agulha–PAA especificado pelo fabricante para a sua cápsula. Deixaremos à mão uma lupa, uma pequena chave de fenda (preferentemente do tipo de joalheiro, que impedem ajustes demasiados firmes), uma pinça ou alicate muito delicado, uma balança para peso de apoio (PAA), um dispositivo para alinhar tangencialidade (zenit) da cápsula (protractor ou similar), uma cunha adequada para travar o movimento do prato do toca-discos e um pequeno espelho. Também precisaremos um disco vinil velho ou que não seja mais tocado, plano e de espessura normal (digamos, a mais comum).

3.4) Organizando o local
Procure ter uma área limpa e livre para colocar ferramentas e acessórios, sem se sentir tentado a colocá-los sobre a bandeja do toca-discos, isso é evita quebrar acidentalmente a agulha numa rotação inadvertida da bandeja. Estenda um lenço limpo em algum lugar plano para esse uso. Tenha à mão uma boa luz geral e uma lanterna ou luz menor para iluminar adequadamente as distintas etapas do trabalho de instalação e ajuste. Tenha suficiente espaço ao lado do toca-discos para poder observar a partir de distintos ângulos (especialmente a partir de cima, da frente do braço e do seu lado externo). Mantenha papel e lápis em local ao alcance das mãos para suas anotações (código de cores dos conectores, por exemplo). Desligue o sistema de som e mantenha cápsula com o protetor de agulha colocado.

3.5) Nivelando o toca-discos
Antes de qualquer coisa, seu toca-discos deve estar em cima de uma superfície firme o mais próximo da configuração indicada anteriormente. Se o móvel que você acomoda o o toca-discos estiver desnivelado será preciso calçá-lo ou se o piso for muito irregular, mudá-lo de lugar.


Depois de devidamente acomodado é preciso verificar se o próprio toca-discos está nivelado. Se o braço tiver controles de peso da agulha e/ou anti-skating, os deixaremos na posição neutra (zero grama). Se a agulha for removível extraímos-la com todo cuidado e procuramos um lugar absolutamente protegido para guardá-la. O ideal é um suporte específico, quando houver ou uma caixa pequena com tampa transparente e se isso puder ser feito com o protetor colocado, melhor.
Alguns aparelhos possuem regulagem de altura nos pés ou no sistema de suspensão. Para saber se o aparelho no nível correto, basta usar um nivelador. Já existem aplicativos para smartphones que simulam essa ferramenta, como mostrado abaixo.


Coloque o nivelador sobre a superfície do toca-discos e ajuste pés de suporte até o nivelador ficar no ponto nulo. Se o seu toca-discos não possui pés ajustáveis, você terá que arrumar a superfície que o toca-discos foi instalada. Por último, não esqueça de verificar também o nível prato pois as vezes ele não foi bem encaixado.


3.6) Conectando e fixando a cápsula
Mexer ou desconectar a cápsula é um processo muito delicado e exige bastante precisão, por isso se você preferir procure uma ajuda profissional.
Identificaremos na parede posterior da cápsula as cores dos pinos de conexão. Na maioria da cápsulas), as cores serão: branco para canal esquerdo vivo, azul para canal esquerdo terra, vermelho para canal direito vivo, verde para canal direito terra. Verificamos a existência no extremo do braço dos quatro cabinhos (geralmente também coloridos) com os devidos terminais para conexão com os pinos da cápsula. Se os fios estiverem danificados, ou forem muito velhos, é prudente substituí-los. Existem cabinhos prontos de excelentes marcas. Pode ser útil fazer um desenho da localização de cada pino para facilitar a conexão.
Existem agora dois caminhos a escolher: fixar a cápsula e depois fazer as conexões ou fazer as conexões e fixar a cápsula depois.
No caso de optar por fixar as conexões primeiro (seqüência melhor no caso de agulhas destacáveis), segure a cápsula sem agulha numa mão e com a ajuda do alicate fixe um a um os clips de conexão, começando pelos mais afastados de você para manter melhor visibilidade. O encaixe dos conectores não deve ser muito justo nem muito frouxo. Se observarmos que os conectores ficam muito soltos, deveremos fechá-los com cuidado. Inserimos a ponta de um palito de dentes dentro do conector e suavemente, este é o momento mais fácil desprender acidentalmente os terminais dos cabinhos, o que significa um problema adicional se você não tiver bons e delicados elementos de solda ou cabinhos de reserva. Depois aperte com o alicate perto da ponta do clip, até sentir que ele está se fechando. O palito evitará colapsar desastrosamente o terminal. Retire o palito e verifique o ajuste no pino da cápsula até que seja o correto. Então, com cuidado, apertamos o resto do clip. Verificar o ajuste de todos os clips antes de começar a conectá-los, já que depois estará mantendo a cápsula na outra mão e seria muito fácil deixa-lo cair ou arrancar um clip.
Depois de colocados os quatro clips e tendo muito cuidado para não causar tração sobre os cabinhos, está na hora de fixar a cápsula na cabeça do braço, o que faremos colocando os parafusos de comprimento adequado de cima para baixo (o inverso é mais fácil e alguns assim o preferem, mas pode haver outros problemas e não é a melhor solução estética). Costuma ser, com algumas cápsulas, um momento chato. O espaço para acertar as porcas nos parafusos é exíguo demais. Ajuda, às vezes, apoiar primeiro a porca mantida com um dedo por baixo, depois alinhar os orifícios da cápsula, da cabeça e da porca com um palito para, por último, introduzir o parafuso e girá-lo com a chave de fenda apropriada (melhor o tipo de "joalheiro"), até sentir que encaixa na rosca da porca. Tudo isto sem soltar o dedo que pressiona a porca desde baixo.O fato de termos retirado a agulha facilita enormemente e diminui o risco - que neste momento é maior, de quebrar o suporte da agulha com a extremidade do dedo. Ajuste os parafusos apenas o suficiente para deixar a cápsula fixa no meio dos trilhos.

3.7) Overhang
Denomina-se overhang a distância entre o ponto de apoio da agulha e o eixo do disco. Essa medida é diferente para cada braço, pois depende da sua geometria e comprimento. Como o comprimento do braço não é infinito, a agulha irá, quando apoiada no disco em movimento, descrever um arco sobre o disco (em vez de uma linha reta), formando diferentes ângulos com os sulcos. Se o overhang estiver errado, esses ângulos tomarão valores muito errados, causando distorção. Quando a cabeça do braço tem ranhuras longitudinais para os parafusos de fixação que permitem deslizar a cápsula ao longo da cabeça durante o ajuste, poderemos corrigir diferenças não muito grandes de overhang, pois o efeito é o mesmo que variar o comprimento do braço (geometricamente não é exatamente assim, porém serve para pequenas variações). Para fazê-lo, siga as instruções referentes ao zenith, pois ambos os ajustes estão relacionados. O overhang está relacionado com o offset, que é o ângulo que a cabeça faz com o corpo do braço ou, mais exatamente, com a linha que se estende a partir da agulha até o eixo do braço. Quanto mais curto o braço, maiores o overhang e o offset e também o skating (ver adiante). Um braço de comprimento infinito não precisaria deles e um braço de deslocamento linear (tangencial, não articulado em eixo externo ao prato) tampouco. O tema é extenso e, para os que querem o máximo de perfeição geométrica, a Wallys fabrica um conjunto de ferramentas para alinhar cápsulas, algumas das quais devem ser solicitadas para cada marca e modelo de braço específico, muito caras por sinal.

3.8) O ângulo de tangência ou zenit (traking angle)
Pelo fato de o braço ter comprimento finito, a cápsula terá dificuldades em seguir os sulcos com perfeita tangência. Você terá que encontrar o ajuste que ocasiona o menor erro ao longo do disco. Este erro faz com que um sulco seja lido antes que o outro, ocasionando, desta maneira, erro de fase entre ambos os canais estéreo, com os correspondentes erros de imagem e soundstage. Existem acessórios como gabarito de um ponto ou "geo-disc" que poderão ajudá-lo.


Existem outros sistemas, entre os quais o DB Protractor ou o sofisticado e caro Wally Tractor, que são gabaritos normalmente com dois pontos sobre os quais é possível verificar alinhamentos. Estes últimos baseiam-se no fato de que, se o overhang for correto, sempre haverá dois pontos nos quais o ângulo entre o movimento da agulha e as paredes do sulco seja perpendicular, isto é, que o curso da agulha seja tangencial aos sulcos. Com isso, o erro de tangência será o mínimo possível no resto dos sulcos do vinil. Quem descreveu esse processo foi Baerwald, nos anos 40. Depois, aceitou-se como norma usar pontos situados a 66 mm e a 121 mm do eixo do disco.


Existem modelos de gabaritos específicos para cada aparelho, mas se você não tiver o manual do seu toca-discos em mãos pode usar o modelo abaixo que o resultado será praticamente o mesmo.


Depois de imprimir o modelo (clicar no links mais adiante), faça um furo para o pino central do toca-discos e insira a folha de papel ali. Em seguida, leve o braço até o primeiro ponto de alinhamento, o mais longe do centro. Com a ponta da agulha quase tocando o ponto indicado para ela, coloque as laterais da cápsula alinhadas às linhas paralelas indicadas na folha – de acordo com a largura da cápsula. Você faz isso afrouxando um pouco os parafusos e apertando-os logo depois de mover a cápsula para regular com as linhas da folha.



Feito isso, leve a cápsula até o segundo ponto de alinhamento, o mais ao centro do disco. Se as laterais da cápsula estiverem alinhadas com as linhas da folha, o posicionamento da sua cápsula no shell está certo. Se as laterais estiverem um pouco fora, afrouxe os parafusos novamente e coloque a cápsula em um ponto médio entre as linhas do primeiro e do segundo ponto de alinhamento, porque dificilmente o alinhamento vai ficar igual nos dois pontos. Aperte os parafusos quando a cápsula estiver regulada no shell.
Após terminar de parafusar, ajuste os parafusos da cápsula sem exageros. Apertá-los muito poderá causar deformações no corpo da cápsula ou no braço e favorecer ressonâncias ou criar problemas mais graves.



Lembre-se que cada toca-discos, cápsula e agulha possui um gabarito específico e eles são pagos. Porém você pode tentar alinhar com dois gabaritos grátis disponibilizados nos links abaixo. O ajuste segue por sua conta e risco.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gabarito_alinhamento.jpg
http://www.enjoythemusic.com/protractor3m.pdf

Um membro do Vinyl Engine desenvolveu um programinha bem interessante para imprimir um gabarito personalizado, de acordo com a distância de montagem do braço e o método de alinhamento escolhido:
http://www.conradhoffman.com/chsw.htm

Aqui o tópico onde ele apresenta e discute o programa:
http://www.vinylengine.com/phpBB2/viewtopic.php?t=16849

3.9) O azimuth, ou ângulo vertical da cápsula
Para evitar que a agulha apoie mais num lado do que no outro do sulco, ela deve manter um perfeito ângulo vertical quando vista de frente.
Para verificar isso, coloque o braço apoiado no disco. Olhando de frente em relação ao braço, poderá ver o alinhamento vertical da cápsula. Se ainda não for fácil ver o ângulo, coloque um espelho em baixo cápsula, mas não solte totalmente o braço.


Alguns braços permitem um ajuste fino deste ângulo e outros não. Neste caso, se o ângulo for acentuado, pode tentar colocar arruelas de distinta grossura no parafuso adequado entre a cápsula e a cabeça, de maneira a girar a cápsula até ficar perpendicular ao disco.
Se o ângulo não for muito marcado, talvez seja melhor deixar como está. De todas as formas, é útil saber que um erro de azimuth prejudicará a separação de canais, fazendo com que a imagem não seja bem centrada ou que o foco seja impreciso, além é claro de desgastar a agulha de maneira errada e prejudicar o delicados sulcos do vinil. Também é bom saber que, com um multímetro e um pouco de tempo você poderá medir a correção do azimuth.

Erro do Azimuth
3.10) Contrapeso
Se o braço do seu toca-discos estiver torto, é porque você deve regular o contrapeso e o anti-skating.
Para ajustar o contrapeso do braço siga os passos:
1) Com a agulha no descanso e destravada e o anti-skating no zero, gire o contrapeso (sentido horário: diminui o peso; sentido anti-horário: aumenta o peso) até que ele flutue paralelo ao prato.


2)  Segure com cuidado o contrapeso, e com a outra gire o anel com a escala numérica até que chegue na marca do zero. Depois, com apenas uma mão, gire o contrapeso no sentido anti-horário até que a escala numérica marque o peso determinado pelo fabricante da cápsula. Quanto mais pesado for o shell, maior será o contrapeso para não ocorrer desgaste da agulha e dos discos. Meio décimo de grama pode fazer a diferença no som. Se você perceber que agulha está leve demais e que está escapando do vinil, gire em sentido anti-horário e aumente um pouco o peso até nó máximo 2,5g. Tenha calma para encontrar esse equilíbrio.


Se o seu toca-discos tiver dois contrapesos - um para o braço e outro para definir o peso de trabalho da agulha - gire o contrapeso até que chegue ao peso especificado pelo fabricante da cápsula (se você não tiver o manual em casa, pode encontrá-lo na internet).
Se o braço não for regulado corretamente a pressão sobre a parede interior do sulco será maior que aquela sobre a parede externa, isso causa erros de traçado da agulha no sulco (diferencia entre canais) e gasta a agulha e os sulcos do vinil.

3.11) Anti-skating
“Skating” é o termo usado para expressar a tendência do braço deslizar para o centro do disco enquanto ele estiver tocando. O skating causa desgaste na agulha e no seu disco de vinil.
Anti-resvalo ou anti-skating é um dispositivo do braço que tem por finalidade aplicar uma pequena força mecânica no eixo do mesmo, de forma a equilibrar a força centrífuga que surge pela rotação do prato e tende a fazer a agulha trilhar mais o lado interno do sulco do disco, que equivale ao canal esquerdo. Essa força pode ser mecânica, através de mola ou contra-peso e magnética, através de imãs.
A regulagem do anti-skating compensa essa tendência e evita que ela aconteça. Algumas marcas de toca-discos não possuem essa função, infelizmente.
Esta tendência – de origem friccional - será dependente de:
  • o comprimento do braço (um braço de comprimento infinito teria uma tendência nula a deslizar no disco, pois seus ângulos com os sulcos seriam de 90 graus ao longo do mesmo);
  • o offset da cápsula;
  • o PAA. Quanto maior, maior o skating;
  • a velocidade (portanto, é diferente ao longo do disco);
  • o atrito do contato agulha-sulco (é maior com discos de vinil virgem, como alguns dos melhores vinis modernos);
  • o tipo de agulha (é menor com agulhas cônicas);
  • o tipo de modulação impressa nos sulcos.
A parte de nivelamento do seu toca-discos com a superfície onde ele está é muito importante de ser feita antes de regular o anti-skating.
Gire o anti-skating até que ele atinja o mesmo valor do contrapeso da agulha. A partir daí, com um vinil rodando, observe se a agulha está deslizando mais para o centro do disco. Caso esteja, diminua o valor do anti-skating até que você não perceba mais isso.


Existem também alguns discos específicos para regulagem do anti-skating que não possuem sulcos. Para fazer a regulagem com esses discos, você deve escolher três pontos para colocar a agulha no disco: no começo próximo da borda, no meio e no final. Aumento e diminuindo o valor do anti-skating nesses três pontos, a agulha deve correr o menos possível para o centro. Essa regulagem precisa é um pouco mais complicada de fazer e exige mais conhecimento técnico, mas também é possível se você tiver o disco liso próprio para regulagem.

3.12) Vertical Tracking Angle (VTA) e Stylus Rake Angle (SRA)
O VTA é o ângulo vertical do cantilever com a superfície do disco. Se não estiver bem regulado, você vai perceber alterações nos graves e nos agudos do seu som. Infelizmente, alguns aparelhos não possuem essa regulagem.
O SRA é o ângulo entre a agulha e o disco e deveria ser zero.
Você ajusta o VTA numa regulagem na base do braço. O primeiro passo para regular o VTA, é deixar o braço paralelo ao prato. Como as cápsula são diferentes entre si, pode ser que você tenha que fazer pequenas alterações no VTA de acordo com cada uma delas. Você vai saber que está tudo certo quando os graves e agudos de uma música soarem claros e limpos.
O cantilever tem um ponto de apoio na cápsula (que está acima do nível do vinil) e um comprimento definido. Isto faz com que, quando a agulha se movimenta, o ângulo que forma com a superfície do disco mude, tanto no sentido horizontal, quanto no vertical. Um peso errado fará com que o magneto saia do ponto correto de trabalho.
A este ângulo formado entre o cantilever e a superfície do disco denomina-se ângulo de traçado vertical ("vertical tracking angle", ou VTA). O ângulo – VTA – usado por quase todas as cabeças gravadoras varia entre 18 e 25 graus, sendo o mais comum de 22 graus.
Se você observar a agulha lateralmente com uma lupa, verá que, no extremo, o cantilever está curvado de maneira a fazer que – com o devido VTA – a agulha se apoie verticalmente no sulco. A este ângulo (que, às vezes, é confundido com o VTA) entre o eixo longitudinal da agulha e a superfície do disco, denominamos ângulo de apoio da agulha (stylus rake angle, ou SRA) . Ele é medido tendo como referência a vertical (ângulo reto com a superfície do disco). Em cada modelo de cápsula o VTA e o SRA estão inseparavelmente ligados.
O fabricante da cápsula normalmente facilita as coisas, fazendo com que, quando o VTA (e, conseqüentemente, o SRA) determinado pelo peso da agulha é o correto, a parte superior da cápsula estará paralela à superfície do disco. Se o braço (e, logicamente, a cápsula a ele fixada) não estiver paralelo à superfície do disco, o VTA não seria o previsto. Por isso, regular o VTA é sinônimo de regular o ângulo do braço com a superfície do disco como vimos anteriormente.
O VTA pode ser mudado por erro no peso de agulha, mas é pelo ângulo que o braço forma com o disco que devemos regular. Duas dimensões influem nesse paralelismo:a altura da cápsula e a altura do eixo de rotação do braço.
Você não pode mudar a altura da cápsula (salvo se instalar outra de altura diferente, o que termina sendo a causa mais comum de necessidade de regular o VTA). Mas se for ao outro extremo do braço verá que, mudando a sua altura, poderá mudar a atitude do braço, até que ele fique paralelo à superfície do disco. Alguns toca-discos não possuem meios de mudar essa altura - Rega, por exemplo – mas, muitas vezes, é possível colocar arruelas de metal na base do eixo para elevá-lo.
Seja deste modo ou por meio de um controle específico, o importante é regular a altura do eixo do braço para deixá-lo paralelo à superfície do disco quando a agulha estiver nela apoiada com o peso nominal.
Isto é basicamente suficiente para uma regulagem razoavelmente eficaz. Uma régua paralela poderia servir para obter um paralelismo melhor. Também serve traçar linhas paralelas numcartão ou papelão que será depois apoiado sobre um vinil plano para facilitar a visualização do paralelismo da parte superior da cabeça ou da cápsula. Existem também gabaritos para esse fim, como o Wally, por exemplo.
Posteriormente, você poderá experimentar com diferentes ajustes do VTA. Seguramente encontrará diferença na sonoridade, levando em conta que, ao mudar o VTA, você estará mudando SRA que é o fator individual mais importante na qualidade de reprodução de um toca-discos. Não insistimos nas infinitas considerações e técnicas que o tema envolve, mas tentamos esclarecer da melhor maneira esses pequenos ajustes que podem fazer toda diferença na qualidade do som.
Entrando um pouco mais no tema do VTA, observamos que cada cabeça gravadora usa um VTA diferente. Por outra parte, a espessura de cada disco é também diferente e influi no VTA da sua cápsula. Menciono isto para você saber, de antemão, que não existe um VTA único para cada sistema de braço-cápsula. Se quiser ir aos extremos, deveria mudar o VTA (mediante a altura do pivô) cada vez que troca de marca de disco ou usa discos de espessura diferentes.
Para não entrar em complicações para as quais você terá tempo de sobra no resto de sua vida, o mais recomendável seria deixar o VTA regulado com um disco de espessura média e, em caso de dúvida, deixar o eixo do braço algo mais baixo (um milímetro, por exemplo) e não ao contrário. A isto se chama VTA negativo e costuma ser menos prejudicial para o som que o contrário.
Você poderá suspeitar que VTA precisa ser diminuído (abaixando o eixo do braço) se observar médios duros, agudos brilhantes demais, transientes ásperos e baixos "finos" de pouca extensão, sem corpo, e poucos detalhes de baixo nível e pouca micro-dinâmica. O VTA estará negativo e precisará ser aumentado (elevando o eixo do braço) quando verificar o oposto: som apagado e amortecido, extensão de agudos prejudicada, baixos congestos e sem definição, transientes opacos e lentos e, em geral, uniformização da sonoridade. Não esqueça que todos os ajustes influem mutuamente e, às vezes, mudar um deles torna aconselhável revisar os outros, por exemplo, o PAA insuficiente pode simular VTA positivo e vice-versa.

3.13) Ajustes precisos
Existem manuais específicos para determinar o valor certo de peso da agulha, além de uma a balança para ajustar o contra-peso da agulha. Apesar de não ser tão cara (com exceção de algumas marcas), não há necessidade de comprar essa balança, mas se você quer um ajuste mais preciso pode valer a pena.
Deixando o controle de peso da agulha do braço e o anti-skating zerado, começamos por regular o contrapeso do braço até que este fique totalmente horizontal, "flutuando" quando deixado livre.
Recomendo fazer as manobras iniciais de regulagem do contrapeso com o protetor de agulha colocado. Depois de chegado a um ponto aproximado, descobrimos a agulha e acertamos definitivamente o ponto do contrapeso que mantenha o braço o mais horizontal possível. Colocamos um disco velho na bandeja e o braço suspenso sobre ele. Giramos o controle de PAA até a marca do peso indicado para a cápsula em uso. Regulamos o controle de anti-skating de acordo ao peso da agulha. Os braços que não possuem controle de regulagem do PAA deverão ser ajustados com pequenos movimentos do contrapeso, até se obter o valor desejado.
Não se deixe levar pelo impulso de deixar o peso da agulha menor que o mínimo indicado pelo fabricante, pensando desgastar menos o disco. Isto poderá acarretar danos irreparáveis aos sulcos do disco em muito maior medida do que deixar a agulha mais pesada.
Se você tiver dúvidas sobre o anti-skating e se seu toca-discos estiver numa posição que lhe permita observar a cápsula de frente, verifique se o eixo da agulha mostra tendência a ficar lateralizado, como se quisesse avançar de lado. Em agulhas de alta compliância isto é evidente quando o anti-skating está errado. Você pode também usar meios eletrônicos ou auditivos para verificá-lo. Os vinis de teste costumam ter faixas de tons constantes gravados em níveis altos e progressivos. Num desses níveis toda cápsula irá falhar, permitindo-nos ouvir distorção e até simplesmente pulando do sulco. Se você verificar que a distorção se inicia sempre em um dos canais, poderá ajustar o anti-skating até eliminar essa situação de assimetria.

3.14) Conclusão dos ajustes
Depois de terminar toda esses ajustes é muito importante revisar todos os parâmetros novamente. É possível que algo tenha se desajustado no caminho. Não seja obsessivo demais pois o ajuste básico acima relatado dará a você 90% do que é possível obter de uma cápsula.
Um toca-discos, principalmente o conjunto braço / cápsula / agulha, é uma peça de mecânica de precisão bastante frágil e cara. Portanto, se você não se sente seguro ao mexer com esse tipo de tecnologia ou não possui as ferramentas adequadas, sugerimos procurar um técnico especializado.

Referências
www.facebook.com/groups/clubevinilcuritiba
www.clubehiend.com.br
www.xtreme-dj.com
www.somvintage.com
www.erpires.com.br
www.audiorama.com.br
www.clubedoaudio.com.br
www.enjoythemusic.com
www.noize.com.br
www.newtoncbraga.com.br
www.klickeducacao.com.br
www.if.ufrgs.br
www.kahlaudio.com

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