Os fabricantes estão lutando para se manter com o ressurgimento dos discos de vinil

O "boom" do ressurgimento do vinil foi ficando mais intenso este ano, deixar cair a agulha em um disco torna-se cada vez mais na moda. Mas o que tem sido defendido como uma vitória para os puristas da música, está colocando uma pressão sobre os fabricantes.
Foto: http://www.independent.co.uk - Getty images
Pressionados, alguns fabricantes estão se esforçando para atender ao aumento da demanda de registros. O custo da construção de novas máquinas de prensagem de vinil é muito alto, por isso, maiores volumes são produzidas em máquinas antigas de segunda mão.
Os prazos de entrega para os registros  ficam em torno de um mês a três, nos últimos dois anos. A maior fábrica de vinil  em atividade no mundo a GZ, na República Checa (que já foi matéria do blog) informou que eles chegaram a prensar por volta 42.000 discos em um dia. A empresa adquiriu recentemente seis máquinas antigas na tentativa de aumentar a produção, mas é declaradamente improvável que se obtenha mais da metade de trabalho.
E a tendência das vendas do vinil é não diminuir. O frisson que ocorreu na rede quando o produtor de electrônica Aphex Twin revelou que irá produzir apenas 200 cópia de seu novo álbum Syro (2014), em vinil triplo, é a prova real disso.
O recorde de vendas era acima de 40% no primeiro semestre de 2014, de acordo com pesquisa da SoundScan, mesmo desconsiderando discos vendidos diretamente pelas gravadoras. Pesquisas da ICM Research, mostrou que no início deste ano 15% das pessoas compra "música física", mas não pretende ouvi-la, apenas colecioná-la.
"As pessoas estão caçando seus toca-discos" do galpão ou do sótão e seus filhos estão interessados ​​em possuir essa mídia paupável", diz Adam Teskey, diretor de produção na fábrica de vinil GZ. "As vendas vinil irão crescer mais ainda", acrescenta o diretor criativo do Vinyl Factory, Sean Bidder. "A enorme leva de adolescentes ter caído de amores pelo vinil, apesar de terem crescido na era da música digital."

Foto: Petr Josek/Reuters - G1.com.
A Fábrica de vinil prensa de tudo, desde edições especiais inovadoras como os da banda "The xx" até os clássicos de Elvis, em máquinas construídas na década de 1970. Pedaços de PVC são esmagadas sob 90 toneladas a 200 Cº.
Ainda a respeito do crescimento da venda dos vinis e da falta de maquinário e mão-de-obra especializada, Adam Teskey ressalta "Eu gosto da história, mas nós empregamos pessoas, somos um inovador de negócios, com visão de futuro".
É um sentimento compartilhado por Shane Whittaker, co-fundador empresa de masterização e produção Curved Pressing. "Eu ainda estou prosperando em uma indústria que não existe se você vai a um gerente de banco", diz ele, falando de seu novo escritório em Ibiza. "A demanda vai crescer tanto que a capacidade de produção vai chega a ponto de ruptura."
De acordo com Teskey, a Record Store Day tornou-se "o novo "natal", substituindo o tradicional pico de outubro e dezembro. "Para os fabricantes de vinil mudar esse pico é bem complicado", diz ele. "Normalmente, ocorre um "boom" de vendas durante e após a "Record Store Day", mas este ano as vendas continuaram em ritmo acelerado."
Para Spencer Hickman, organizador Record Store Day, os fabricantes de vinis estão enfrentando um dilema constante. "Será que eles prensam mais do que as gravadoras precisam e com isso levaria mais tempo para obter uma segunda leva, ou vale a pena arriscar vender para fora, esperando dois meses para que os juros baixem?" Se você estiver enviando uma banda em turnê, os horários são cruciais."O problema é que todo mundo quer cor, imagem e vinil e é muito demorado para fazer."
O vinil desafiou os fabricantes ao retornar com força total, mas com a produção cada vez mais complicada e cara, há temores de que os preços de alguns títulos possam aumentar.

Reportagem extraída e adaptada do jornal Indepent, texto de Alex Lawson

Para a jornalista Debora Pill na reportagem "A volta do vinil" para o site "Cultura e Mercado", uma série de lançamentos recentes no Brasil – de Anelis Assumpção e Russo Passapusso a Pitty e Lenine, passando pelos clássicos Jorge Ben e Noriel Vilela – mostram que a volta da música em formato vinil já é uma realidade para diferentes gêneros e gerações no país.
Lá fora, a regra se repete e o topo das vendas de LPs reúne ícones da modernidade, como Daft Punk e Justin Timberlake, e lendas como Beatles e Jimi Hendrix. Um estudo recente mostra que a venda de vinis no mercado norte-americano cresceu impressionantes 33% entre 2012 e 2013.
E no Brasil? Por aqui as vendas de vinil estão em claro crescimento. A carioca Polysom – única fábrica de vinil da América Latina – anunciou um aumento surpreendente de 126% nas vendas de discos somente entre os meses de março e abril desse ano.
Acompanhando o que vem ocorrendo no mundo, o crescimento de vendas é espantoso. Num mercado em que todos os formatos de música caem, à exceção do streaming digital, o vinil vem ‘nadando de braçadas’, com crescimento de mais de 50% ao ano”, explica João Augusto, da Polysom.
Somente em 2013, a empresa vendeu um total de quase 59 mil unidades – cerca de 40,5 mil LPs e 17,8 mil compactos. Comparando o período com o mesma época do ano passado, houve crescimento superior a 81%.
A Polysom foi fundada em 1999, em um momento em que a indústria fonográfica abandonava o vinil para se dedicar aos CDs. Fechou as portas em 2007, mas já no ano seguinte os proprietários da Deckdisc fizeram a aquisição oficial da fábrica, reformaram o espaço e remontaram todo maquinário, incluindo prensas, compressores e motores. Foi reativada em 2009 e, em 2012, registrava um lucro de 13,55%. Hoje, fabrica compactos (7”) e long plays (12”) em diferentes cores, e os LPs podem ser de 140 ou 180 gramas.
O LP mais vendido da Polysom é “A Tábua de Esmeralda”, de Jorge Ben Jor. “Provavelmente porque foi um dos primeiros lançamentos da série Clássicos, através de licenciamento da Universal Music”, conta João Augusto. “Outros títulos vêm vendendo com bastante consistência, como Novos Baianos, Moacir Santos, Chico Science & Nação Zumbi, além de alguns discos fabricados por independentes com tiragens bem altas”.

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Nos EUA, Radiohead lidera o ranking de discos vendidos em vinil, com 64 mil LPs vendidos em 2011. O segundo do ranking é o também contemporâneo Black Keys. Beatles ficou em quarto.
Nota-se um número maior de lançamentos, não só de clássicos mas de música moderna também. E isso tem ajudado no crescimento do mercado”, analisa o representante da Polysom. “Com mais oferta, o consumidor se sente seguro para comprar um toca-discos e investir em vinil”.
O aumento de interesse pelo formato vinil também afetou as plataformas de venda online. Em um ano, o site de comércio eletrônico Mercado Livre registrou um aumento de 6% nas vendas de vinil. Somente em 2013, as vendas no formato responderam por 27% do volume em seu setor de música no Brasil.
Outro movimento que se notou a partir do aumento da produção de vinil no país é a quantidade de selos brasileiros que só lançam discos nesse formato, tanto nacionais quanto internacionais. O Vinyl Land existe desde 2008 e é focado na nova música brasileira: já lançou Curumin, Lucas Santtana e Tulipa Ruiz no exterior. Os selos Brasilis Grooves, Somatória do Barulho e Goma Gringa misturam clássicos e modernos e lançaram aqui no Brasil desde reedições em vinil de Di Melo, Noriel Vilela, Paulo Bagunça e Fela and Africa 70 até Metá Metá, Thiago França e Elo da Corrente.
Segundo José Augusto, o público não é só de colecionadores ou saudosistas, como se falou durante muito tempo. “Somos surpreendidos todos os dias por gente muito jovem aderindo ao vinil”.
Rodrigo de Andrade, idealizador e fundador do 180 Selo Fonográfico, confirma: “Uma parte expressiva dos nossos consumidores são jovens que cresceram em meio aos CDs e MP3s e apenas agora estão percebendo essa qualidade de áudio superior e a riqueza e profundidade presente nos discos”, conta. Apenas um ano desde o seu primeiro lançamento em vinil, o selo já tem oito títulos no catálogo.
O vinil tem crescido muito, encontrado novo mercado”, analisa Flavio Scubi, da Scubidu Records. De nicho, ele admite, mas um mercado interessante de fãs que estão dispostos a investir mais para ouvir seu artista preferido com o calor que só um bolachão tem. “É um formato que privilegia quem ouve música de uma maneira especial, com atenção, diferentemente dos MP3s que ouvimos em nossos celulares por aí, com péssima qualidade”.

Leia mais sobre o crescimento do mercado do vinil numa excelente reportagem da Folha: "Mercado o Vinil tem o seu melhor ano; setor é minúsculo no país"