Nostalgia 02 | 50 Anos de Boemia (1987) - Nelson Gonçalves

Ano: 1987
Gravadora: RCA
Gênero: MPB, Samba, Seresta, Choro e Marchinha 
Obs: o álbum não está a venda.

Há exatos 100 anos nascia um cantor que causou suspiros e instigou gerações com o vozeirão firme em sambas-canções carregados de emoção. Um dos mais talentosos e bem sucedidos dos nossos intérpretes era partidário da boemia e exibia uma pose de romântico incorrigível: “Eu canto aquilo que todo mundo queria dizer para as mulheres”. E assim definia a técnica perfeita: “A voz tem que vir do gogó e arrepiar tudo até a medula”. E ele até os dias de hoje com certeza arrepia os mais novos apreciadores do bom samba e da majestosa seresta.
Senhoras e senhores, estou falando de Nelson Gonçalves, que nos deixou em 18 de abril de 1998 e ainda me encanta bela magnífica interpretação de canções populares consagradas e remete um ar de nostalgia.
No post Nostalgia de hoje, vou falar um pouco sobre a carreira conturbada de Antônio Gonçalves Sobral também conhecido como o "Rei do Rádio" ou simplesmente Nelson Gonçalves, mostrando uma coletânea em vinil intitulada "50 anos de Boemia" lançado pela RCA em 1987.
Nelson Gonçalves, nome artístico de Antônio Gonçalves Sobral, foi um cantor e compositor brasileiro que nasceu em Santana do Livramento em 21 de junho de 1915 e morreu no Rio de Janeiro, em 18 de abril de 1998. Terceiro maior vendedor de discos da história do Brasil, com mais de 75 milhões de cópias vendidas, fica atrás apenas de Roberto Carlos, com mais de 120 milhões e Tonico & Tinoco com aproximadamente 150 milhões.
Nasceu no Rio Grande do Sul, mudou-se com os seus pais portugueses para São Paulo, no bairro do Brás.
No colégio, era sempre chamado para puxar o hino nacional no hasteamento da bandeira. Um dia cansou da gozação dos colegas e negou-se a cumprir a tarefa. Acabou expulso. “Pois bem”, disse o pai. “Vais cantar comigo nas feiras”. E passou a levar Tonico para cantar, em cima de um caixote, as modinhas que dedilhava no violão, fingindo-se de cego.
Foi jornaleiro, mecânico, engraxate, polidor e tamanqueiro. Assim fazia, aos 17 anos, sua “inscrição” na boemia. Apesar de ter sido campeão paulista, com 24 nocautes, explicava: “Com o tempo, cheguei à conclusão de que era melhor cantar do que apanhar”.



Mesmo com o apelido de "Metralha", por causa da gagueira, decidiu ser cantor. Em uma de suas primeiras bandas, teve como baterista Joaquim Silva Torres. Foi reprovado duas vezes no programa de calouros de Aurélio Campos. Finalmente foi admitido na rádio PRA-5, mas dispensado logo depois.
Nesta época, casou-se com Elvira Molla e com ela teve dois filhos. Sem emprego, trabalhou como garçom, no bar do seu irmão, na avenida São João.
Seguiu para o Rio de Janeiro em 1939, onde trilhou mais uma vez o caminho dos programas de calouros. Foi reprovado novamente na maioria deles, inclusive no de Ary Barroso, que o aconselhou a desistir. Finalmente, em 1941, conseguiu gravar um disco de 78 rotações, que foi bem recebido pelo público. Passou a crooner do Cassino Copacabana (do Hotel Copacabana Palace) e assinou contrato com a Rádio Mayrink Veiga, iniciando uma carreira de ídolo do rádio nas décadas de 40 e 50, da escola dos grandes, discípulo de Orlando Silva e Francisco Alves.
Lá pelas tantas, arriscou-se no Rio de Janeiro, sem eira nem beira, para tentar a sorte nos programas de calouros das rádios. Não teve sucesso em nenhum, passou fome e dormiu ao relento. Por fim, conseguiu um contrato com a RCA.

Adelino Moreira / Ary Barroso / Adoniran Barbosa /
Demônios da Garoa / Dolores Duran / Dorival Caymmi /
 Evaldo Gouveia / Francisco Alves / Herivelto Martins /
 Jair Amorim / Lamartine Babo / Lupicínio Rodrigues /
 Nelson Gonçalves / Noel Rosa / Orlando Silva / Vicente Celestino. 

Alguns de seus grandes sucessos dos anos 40 foram Maria Bethânia (Capiba), Normalista (Benedito Lacerda / Davi Nasser), Caminhemos (Herivelto Martins), Renúncia (Roberto Martins / Mário Rossi) e muitos outros. Maiores ainda foram os êxitos na década de 50, que incluem Última Seresta (Adelino Moreira / Sebastião Santana), Meu Vício É Você e a emblemática A Volta do Boêmio (ambas de Adelino Moreira).






Na década de 50, além de shows em todo o Brasil, chegou a se apresentar em países como Uruguai, Argentina e Estados Unidos, no Radio City Music Hall.
Em 1952, casou-se com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro. O casamento durou até 1959.
Em 1965, casa-se de novo, com Maria Luiza da Silva Ramos, com quem teve dois filhos, Ricardo da Silva Ramos Gonçalves e Maria das Graças da Silva Ramos Gonçalves. A caçula tem seu apelido no refrão da música Até 2001. (É no gogo gugu).
No entanto, o seu envolvimento com a cocaína, em 1958, tendo, inclusive, sido preso em flagrante em 1965 e passado um mês na Casa de Detenção, o que lhe trouxe problemas pessoais e profissionais.  Mesmo absolvido no tribunal, não conseguia mais vender shows nem a circos. “É mais fácil sustentar 10 filhos do que um vício”, declarou mais tarde.
Superada a crise, lançou o disco "A Volta do Boêmio nº1", um grande sucesso.
Após abandonar o vício com o apoio de sua mulher, retomou uma carreira bem sucedida.
Continuou gravando regularmente nos anos 70, 80 e 90, reafirmado a posição entre os recordistas nacionais de vendas de discos. Além dos eternos antigos sucessos, Nelson Gonçalves sempre se manteve atento a novos compositores, e chegou a gravar canções de Ângela Rô Rô (Simples Carinho), Kid Abelha (Nada por Mim), Legião Urbana (Ainda É Cedo) e Lulu Santos (Como uma Onda). Compôs e gravou A Deusa do Amor com Lobão.
Ganhador de um prêmio Nipper da RCA, dado aos que permanecem muito tempo na gravadora, sendo somente Elvis Presley o outro agraciado. Durante sua carreira, gravou mais de duas mil canções, 183 discos em 78 rpm, 128 álbuns, vendeu cerca de 75 milhões de discos, ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina.

Não era modo de dizer... Nelson tinha mesmo 10 filhos adotivos, além de três legítimos, do casamento com Lourdinha. Isso entre os oficiais. É uma delas, Lílian, quem fala: “Os filhos, perdemos até as contas...”. Em 1965, Nelson ainda se casaria com Maria Luiza Ramos, sua secretária. Foi a seu lado que conseguiu superar as drogas. E, nos anos 1970, voltou a ser o mesmo de sempre.
Pode-se dizer que Nelson cumpriu a meta que costumava repetir: “Vou cantar até morrer”.
Morreu em consequência de um infarto agudo do miocárdio no apartamento de sua filha Margareth, no Rio de Janeiro no dia 18 de abril de 1998. Até o dia fatídico, lotou casas de espetáculos por onde passou. Em vez de cremado, como um dia brincara que gostaria de ser, teve um grande enterro, com um movimentado velório no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, a cidade calou-se em três dias de luto.
Encontra-se sepultado no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.
A vida de Nelson Gonçalves teve sua biografia dramatizada nas seguintes obras:
Na década de 90, foi encenado nas principais capitais do país o musical Metralha; em 2001 foi lançado o documentário Nélson Gonçalves, contando a sua trajetória, com direção de Elizeu Ewald e protagonizado por Alexandre Borges e Júlia Lemmertz, e tendo a sua filha Margareth Gonçalves como produtora executiva.
Enfim, Nelson Gonçalves era o típico boêmio, e muitos dizem que houve um tempo em que todas as mulheres queriam tê-lo, enquanto todos os homens queriam sê-lo. “Eu canto aquilo que todo mundo queria dizer para as mulheres”, sintetizava. O repertório ia de Herivelto Martins, Noel Rosa e Dorival Caymmi a composições dele mesmo, a maioria com Adelino Moreira, o mais frequente parceiro e compositor de encomenda. Só deixava de lado os temas de amores melosos, desamores e desejos ardentes para cantar a boemia. Ou então unia os dois assuntos, a tensão entre a mulher e os bares: Dizer adeus à boemia / Dói muito e faz chorar / somente um soluço de mulher faz o boêmio se aposentar, canta em Ultimato.
Em um dos maiores sucessos, A Volta do Boêmio, o eu-lírico comemora a autorização da mulher para frequentar a noite: Boemia, aqui me tens de regresso / E suplicante te peço a minha nova inscrição. A incrível Hoje Quem Paga Sou Eu é menos otimista: Sou apenas uma sombra que mergulha / No oceano de bebida, o seu passado / Faço parte dessa estranha confraria / Do vermuth, do conhaque e do traçado. Porém, o verdadeiro vício que destruiu parte da vida e carreira de Nelson não era nenhum dos três.

Músicas

VOL 1
Fonogramas Lado A
A01. A Volta do Boêmio – (Adelino Moreira)
A02. Quem Há de Dizer – (Lupicínio Rodrigues / Alcides Gonçalves)
A03. Meu Vício É Você – (Adelino Moreira)
A04. Folha Morta – (Ary Barroso)
A05. Juramento Falso – (J. Cascata / Leonel Azevedo)
A06. Nem às Paredes Confesso – (Artur Ribeiro / Ferrer Trindade / Maximiano de Souza)
B01. Três Apitos – (Noel Rosa)
B02. Ela Me Beijou – (Herivelto Martins / Artur Costa)
B03. Dolores Sierra – (Wilson Batista / Jorge de Castro)
B04. Cabelos Brancos – (Herivelto Martins / Marino Pinto)
B05. Deixe Que Ela Se Vá – (Evaldo Gouveia / Gilberto Ferraz)
B06. Mariposa – (Adelino Moreira / Nelson Gonçalves)

VOL.2
A01. Chão de Estrelas – (Silvio Caldas / Orestes Barbosa)
A02. Pensando Em Ti – (Herivelto Martins / David Nasser)
A03 Naquela Mesa – (Sergio Bittencourt)
A04. Aquela Mulher – (Cícero Nunes)
A05 Como Vai Você – (Antônio Marcos / Mário Marcos)
A06. Revolta – (Nelson Gonçalves / Raul Sampaio)
B01 Deusa do Asfalto – (Adelino Moreira)
B02. Carlos Gardel – (Herivelto Martins / David Nasser)
B03. Segredo – (Herivelto Martins / Marino Pinto)
B04. Marina – (Dorival Caymmi)
B05. Olhos nos Olhos – (Chico Buarque)
B06. Meu Dilema – (Adelino Moreira)

VOL.3
A01. Maria Betânia – (Capiba)
A02. Escultura – (Adelino Moreira / Nelson Gonçalves)
A03. Somos Iguais – (Jair Amorim / Evaldo Gouveia)
A04. Renúncia – (Roberto Martins / Mário Rossi)
A05. Nem Coberta de Ouro – (Nelson Gonçalves / Antônio Elias)
A06. As Rosas Não Falam – (Cartola)
B01. Caminhemos – (Herivelto Martins)
B02. Só Nós Dois – (Joaquim Pimentel)
B03. Deusa do Maracanã – (Jaime Guilherme)
B04. Argumento – (Adelino Moreira)
B05. História Da Lapa – (Wilson Batista / Jorge de Castro)
B06. A Camisola Do Dia – (Herivelto Martins / David Nasser)

VOL.4
A01. Silêncio da Seresta – (Adelino Moreira)
A02. Normalista – (Benedito Lacerda / David Nasser)
A03. Sorris da Minha Dor – (Paulo Medeiros)
A04. Cadeira Vazia – (Lupicínio Rodrigues / Alcides Gonçalves)
A05. Destino – (Raul Sampaio / Ivo Santos)
A06. Chore Comigo – (Adelino Moreira)
B01. A Noite do Meu Bem – (Dolores Duran)
B02. Apelo – (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
B03. Suas Mãos – (Ayres da Costa Pessoa “Pernambuco” / Antônio Maria)
B04. Maria Luisa – (Nelson Gonçalves)
B05. Eu Sei Que Vou Te Amar – (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
B06. Mágoas de Caboclo – (J. Cascata / Leonel Azevedo)

VOL.5
A01. Negue – (Adelino Moreira / Enzo Almeida Passos)
A02. Deusa Da Minha Rua – (Newton Teixeira / Jorge Faraj)
A03. Dos Meus Braços Tu Não Sairás – (Roberto Roberti)
A04. Moça – (Wando)
A05. Nega Manhosa – (Herivelto Martins)
A06. Último Desejo – (Noel Rosa)
B01. Êxtase – (Adelino Moreira / Nelson Gonçalves)
B02. Viagem – (João de Aquino / Paulo César Pinheiro)
B03. Dora – (Dorival Caymmi)
B04. Hoje Quem Paga Sou Eu – (Herivelto Martins / David Nasser)
B05. Fica Comigo Esta Noite – (Adelino Moreira / Nelson Gonçalves)
B06. Mulher – (Custódio Mesquita / Sady Cabral)

Fotos dos Vinis


Fotos: Diego Kloss
Fontes: http://www.almanaquebrasil.com.br/
http://www.overmundo.com.br/
http://advivo.com.br/blog/luisnassif/a-volta-do-boemio-nelson-goncalves?page=3