Trilha 01 | Crossroads (1986) - A Encruzilhada

Ano: 1986
Gravadora: Warner Bros Records
Gênero: Trilha sonora

Há um bom tempo que não escrevo sobre a trilha sonora de filme e por isso hoje vou falar de mais um clássico dos anos 80, o formidável longa-metragem de 1986, dirigido por Walter Hill: Crossroads - A Encruzilhada.
Estrelado por Ralph Macchio, do Karate Kid (Eugene Martone), Joe Seneca (Willie Brown), Jami Gertz (Frances), Gretchen Palmer (Beautiful Girl / Dançarina) e nada mais nada menos que Steve Vai (Jack Butler), o filme conta a história de um jovem e talentoso estudante de música clássica, Eugene Martone, que é aficcionado por blues.
O filme começa com um blues carregado com a harmônica de Sonny Terry e cena de Robert Johnson na famosa Encruzilhada, com o violão debaixo do braço. Depois, Robert Johnson já aparece num espécie de estúdio caseiro para gravar uma demo de sua composição, senta na cadeira, toma um gole de Whisky e manda um clássico de blues, o empolgante "Crossroads". Quando aparece a matriz em vinil sendo gravada, a cena é cortada para o quarto de Eugene Martone: um jovem amante de blues que mesmo reprimido pelo seu professor, não se intimida e descobre Robert Johnson, um lendário violonista de blues. Martone começa a dedilhar algumas notas e depois segue em busca da história do compositor e acaba descobrindo que Johnson tinha um contrato para gravar 30 músicas, tendo contudo, gravado somente 29 até sua morte. Com a intenção de gravar a música perdida e iniciar sua carreira com chave de ouro, ele ajuda na fuga de Willie Brown, o "Cão Cego de Fulton" (Joe Seneca), um antigo gaitista de blues e amigo íntimo de Robert Johnson, de um asilo-prisão em Nova York. Quando Willie recebe a notícia de que Eugene vai topar tirá-lo do asilo-prisão e levá-lo para o Yazoo no Mississipi, ele começa a tocar a gaita e a dançar freneticamente numa cena hilária.
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Assim começa a busca de ambos pela "Encruzilhada", local onde Johnson e Brown teriam vendido suas almas ao Diabo para se tornarem famosos cantores de blues, ao som do lento e formidável "Down in Mississipi".
Depois de verem que não grana para duas passagens para o Mississipi, vão atrás de carona. Até a foto que aparece na capa do vinil é dos dois numa traseira de uma caminhonete junto com galinhas.
Nesse ínterim, várias lembranças de Willie vão aparecendo e por diversas vezes os dois viajantes discutem sobre o fato de Eugene ser ainda um aprendiz de blues. Até que chegam numa loja de instrumentos e trocam o violão, considerado antiquado por Willie ("Já faz tempo que inventaram a eletricidade") por uma guitarra elétrica.
Na cena seguinte, começa a chover e eles entram uma casa abandonada, onde encontram a linda Frances (Jami Gertz). Eles saem juntos da casa com o intuito de conseguir uma carona mais fácil, segundo Willie "Ela tem pernas, e pernas conseguem muito mais carona...".

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Nessa viagem até chegar o Mississipi, Willie e Eugene tocam blues na beira da estrada para conseguir dinheiro, para Willie "Agora está começando a aprender o Blues profundo".
Depois de roubar o carro do dono do bar, eles vão até um ferro velho para abandoná-lo. Por fim, passam a noite num celeiro, mas no meio da noite são apanhados por policiais. No meio de uma ponte o Xerife local libera o trio, mas não devolve o dinheiro de Frances.
Eles vão para Weevel, se hospedam e a noite vão para o bares da cidade. Porém, após um discussão, eles se separam: Willie vai para um bar de negros e Eugene e Francis para um de brancos conseguir dinheiro.
Nessa parte do filme fica bem evidente a diferença de estilos, enquanto os brancos ouvem Country, os negros estão ao som do bom velho blues. Depois de arranjar confusão no bar dos brancos Eugene e Francis vão para o bar dos negros e não são muito bem recebidos. De repente, Willie sobe no palco e começa uns acordes na gaita, todos olham e ele diz: "O Lighting Boy chegou...se deixarem ele e a moça virem até o palco nós vamos arrebentar as paredes desse lugar". Então começa um blues frenético, "Cotton Needs Pickin", uma das melhores cenas do filme.
No dia seguinte Francis vai embora, Eugene fica deprimido e numa conversa, Willie diz uma frase inesquecível: "Blues é nada além de um homem se sentindo mal pensando na mulher que um dia teve". Eugene começa a tocar o blues mais dramático e triste, o meu favorito: "Feelin' Bad Blues".
Eles chegam finalmente ao Mississipi e vão para uma pensão de uma velha conhecida de Willie. Lá ele pergunta sobre "A Encruzilhada" e a neta sabe dizer exatamente onde fica o local: "Estrada Grande" depois de Docriss. Eugene começa a tocar guitarra e o "diabo" aparece. Após uma discussão sobre o contrato, fica tratado que se Eugene vencer o duelo de guitarra no Fultons Point, o contrato de Willie estará desfeito. Porém se o garoto perder também terá que vender sua alma.


Finalmente eles entram no Fultons Point com um solo estridente de Steve Vai e depois inicia um blues bem vocal e lento "Somebody´s Callin' My Name".
O desfecho do filme se dá com um glorioso duelo de guitarras entre o jovem estudante de música clássica e o guitarrista do Diabo, o jovem Jack Butler (ninguém menos do que o guitarrista Steve Vai), cena inesquecível, dá até arrepio. Depois de Jack ser derrotado eles começam a tocar "Willie Bown Blues", com o próprio Joe Seneca no vocal, incrível.


Por fim, o contrato com o "Diabo" é desfeito e Willie e Eugene seguem na estrada ao som de "Viola Lee Blues". No final Willie declara: "Estou farto dessa terra chamada Mississipi...escuto Chicago me chamando!...B.B. King e Jorge Chain estão dizendo: onde está o cara novo na cidade?...Você tem que continuar sem mim, levar música para outro lugar. Levar para onde você encontrou. Foi assim que fizemos".
E o filme termina com "Walkin' Away Blues, uma música que resume a excelente trilha sonora composta por Ry Cooder.
A Encruzilhada é filme de 1986 que marcou a juventude de muita gente e acabou introduzindo uma leva grande de adolescentes, inclusive eu, ao Blues. É um daqueles filmes despretensiosos, leves e puros, que prestam uma homenagem sincera ao ritmo já chamado de “dor de corno americano” e conseguindo mostrar e refletir todos os aspectos dessa forma musical que inspirou Rolling Stones, Bob Dylan, Eric Clapton e uma centena de roqueiros famosos.
Conta a história de um garoto prodígio de 17 anos de idade, aluno de violão clássico e fanático pela melodia dolorosa do sul dos EUA, que encontra um antigo parceiro do lendário bluesman Robert Johnson em uma prisão para terceira idade e parte para o Mississipi em busca da perdida trigésima canção do músico (Johnson teria gravado somente 29). A Encruzilhada vai brincando com o mundo do blues, desde os músicos que vendem a alma ao demônio para conseguir a maestria nos instrumentos, à dor da separação como inspiração para tocar, passando, obviamente, pela vida de vagabundo nas estradas do interior.


Enfim, esqueça o "músico" que vai dizer que Macchio dubla bem mas erra na mão direita. Esqueça aquele " especialista em blues" que sabe tudo e vai dizer que o filme comete o crime de colocar Willie Brown como gaitista, porque na vida real ele era guitarrista. Esqueça aquele "guitarrista" que dirá que o solo que Eugene faz no final é ‘Capricho Número 5′ de Paganini (1782-1840), uma vez que ele foi o primeiro músico carregar a fama de ter vendido a alma ao tinhoso em troca de talento e mais de um século depois inspiraria outro guitarrista infernal, Yngwie Malmsteen. 
Assista e curta "A Encruzilhada", afinal o filme é um típico filme de estrada, estilo Easy Rider, onde os personagens vão sendo apresentados em situações e experiências de vida soberbas. Mas, como todo grande filme de estrada ele não abre concessões para o final politicamente correto. Sua preocupação é nos mostrar que mais importante que o resultado final, temos que saborear também o longo caminho que percorremos. Não importa se você goste ou não de blues,se você gostar de música veja e sinta "A Encruzilhada". Garanto que a emoção será divina e emocionante como uma boa melodia de blues.

Informações do filme
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1986
Estúdio: Columbia Pictures Corporation
Direção: Walter Hill
Roteiro: John Fusco
Produção: Mark Caliner
Música: Ry Cooder
Direção de Fotografia: John Bailey

Elenco
Ralph Macchio - Eugene Martone
Joe Seneca - Willie Brown
Jami Gertz - Frances
Joe Morton - Assistente de Scratch
Robert Judd - Scratch (o Diabo)
Steve Vai - Jack Butler
Dennis Lipscomb - Lloyd
Harry Carey Jr. - Bartender
John Hancock - Sheriff Tilford
Allan Arbus - Dr. Santis
Gretchen Palmer - Beautiful Girl / Dançarina
Al Fann - Pawnbroker
Wally Taylor - O.Z
Tim Russ - Robert Johnson
Tex Donaldson - John McGraw
[editar]Premiações

Trilha Sonora na ordem que aparece no filme
“Crossroads”
Interpretada por Terry Evans e Ry Cooder
Escrita por Robert Johnson

“Turkish March'
Interpretada por Bill Kanengiser
Escrita por Wolfgang Amadeus Mozart

“He Made a Woman Out of Me”
Interpretada por Amy Madigan
Escrita por Fred Burch e Don Hill

“If I Lose”
Interpretada por Amy Madigan
Escrita por Ralph Stanley

“Cotton Needs Pickin”
Interpretada por The Wonders
Escrita por Richard 'Shubby' Holmes, Otis Taylor, John Price e Frank Frost

“Maintenance Man”
Interpretada por The Wonders
Escrita por John Price e Frank Frost

“Willie Brown Blues”
Interpretada por Joe Seneca, John 'Juke' Logan (harmonica), The Wonders e Ry Cooder (guitar)
Escrita por Joe Seneca e Ry Cooder

“Feelin' Bad Blues”
Escrita e Interpretada por Ry Cooder

“Butler´s Bag”
Escrita e Interpretada por Steve Vai e Ry Cooder

“Head Cuttin' Duel”
Escrita e Interpretada por Steve Vai e Ry Cooder

“Eugenes's Trick Bag”
Escrita e Interpretada por Steve Vai

“Walkin' Blues”
Escrita por Sonny Terry e Ry Cooder
Interpretada por Sonny Terry (harmonica) e Ry Cooder (guitar)

Músicas do vinil
Side 1
Crossroads
Down In Mississippi
Cotton Needs Pickin'
Viola Lee Blues
See You In Hell, Blind Boy

Side 2
Nitty Gritty Mississippi
He Made A Woman Out Of Me
Feelin' Bad Blues
Somebody's Callin' My Name
Willie Brown Blues
Walkin' Away Blues

Fotos do vinil
crossroads a encruzilhada trilha vinil resenha
Capa (frente) e vinil 120gram (Side 1) - Foto: Diego Kloss
crossroads a encruzilhada trilha vinil resenha
Capa (frente) e vinil 120gram (Side 1) - Foto: Diego Kloss