Surpresa 01 | SuperHeavy (2011) - SuperHeavy

Ano: 2011
Gravadora: Universal Republic Records
Gênero: Reggae, Dub, Rocksteady, Pop, Blues Rock, Soul, Jazz e Música Indiana.

Inicialmente concebido para promover o lançamento de uma nova plataforma desenvolvida para os smartphones da Nokia, o SuperHeavy é um supergrupo de rock composto pelo vocalista dos The Rolling Stones Mick Jagger, pelo antigo guitarrista dos Eurythmics Dave Stewart, pela vocalista Joss Stone e pelo filho mais novo de Bob Marley, Damian Marley. Jagger e Stewart depois chamaram o músico indiano A.  R. Rahman, que é designado como o mais promissor compositor do mundo. Jagger disse sobre a banda: "Nós queremos convergir estilos musicais diferentes..."
Eventualmente o contrato com a Nokia falhou, mas o grupo decidiu continuar e começaram a trabalhar no seu álbum de estreia no início de 2009, quando Jagger, Stewart, Joss Stone, Damian e Rahman experimentaram algumas composições em um estúdio em Los Angeles, tentando "escrever músicas com significado". Eles gravaram cerca de 35 horas de música com algumas canções originais, com duração de "uma hora e dez minutos" antes de cortarem. O álbum foi revisto no Jim Henson Studios, em Los Angeles, em 30 de junho de 2011 e o single de estreia, "Miracle Worker", foi lançado a 6 de julho com críticas positivas. A data de lançamento do disco foi agendada para 20 de setembro de 2011.
Com a belíssima arte do disco desenhada por Shepard Fairey, o responsável da campanha eleitoral de Barack Obama, em 2008, o resultado dessa mistura foi um ótimo disco que viaja pelos países de cada um dos integrantes: Inglaterra, Jamaica e Índia. Mesmo combinando toda essa cultura e influências musicais, a Jamaica é o foco principal, o que não é novidade. Jagger revelou que sempre foi apaixonado pela cultura jamaicana e sempre desejava criar um projeto onde pudesse abusar da sonoridade típica do país. Felizmente, ele se reuniu com Stewart e assim, escolheram cada peça que completaria o quebra-cabeças batizado de SuperHeavy, cujo álbum ainda conta com participações de Questlove (baterista do The Roots), Ann Marie Calhoun (violinista conhecida por trabalhar com o Foo Fighters), Shiah Coore e Courtney Diedrick (respectivamente, baixista e baterista da banda de Damian Marley).

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Apaixonados pela Jamaica e pela música jamaicana, não demorou para que Jagger e Stewart convidassem Damian Marley para participar do projeto. Aliás, Damian também trouxe sua seção rítmica para o SuperHeavy: o baixista e compositor Shiah Coore e o baterista Courtney Diedrick.
Outra colaboração é a da violinista Ann Marie Calhoun, conhecida por trabalhar com o Foo Fighters e parceira de longa data de Stewart. A última peça do quebra-cabeça do SuperHeavy foi encaixada justamente em Los Angeles, quando a banda estava próxima de gravar o registro. Segundo Stewart, o compositor indiano AR Rahman “traz muito conhecimento musical, musicalidade incrível, melodia e o poder do canto de uma cultura diferente“.
Assim como os outros integrantes, Rahman não tinha ideia do som que a banda faria e muito menos qual seria a função de cada um: “No primeiro dia eu estava atordoado pensando, ‘O que estou fazendo? Qual é o meu papel?’ E então lentamente começamos a escrever uns com os outros, e foi ótimo. Eu me transportei aos meus tempos de segundo grau, quando tocava em uma banda de Rock, mas essa era de verdade!"..
Com a banda formada e compondo em harmonia, achar um nome que fosse a tradução do encontro desses grandes músicos, era mais que necessário. Marley, certa vez, rifou “SuperHeavy”, inspirado por Muhammad Ali quando foi o campeão de peso super pesado do mundo. Não demorou muito para alguém sugerir que esse fosse o nome do grupo e esse alguém foi, justamente, Mick Jagger. "Todos nós pensamos sobre isso por muito tempo, e então ficou marcado“, contou Stewart.
De acordo com Joss Stone, o som da banda irá surpreender mais que o esperado: “É um novo tipo de música, é um novo gênero, que não podem ser situados", embora Mick Jagger deixe claro que a música é acessível: “Se você é um fã dos Rolling Stones há definitivamente coisas com as quais você pode se relacionar. Outras coisas com as quais pode não relacionar-se tanto, talvez se ouvir, você vai gostar".
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E foi o próprio Jagger que falou, humildemente, sobre o futuro do projeto: “Nós não planejamos fazer uma tour nem nada, mas se as pessoas realmente gostarem, talvez aconteça. Adorariamos sair e tocar um pouco ao vivo. Assim que começamos a tocar juntos no estúdio funcionou, e todos estes estilos diferentes não parecia ser um problema, pois se encaixavam… Espero que as pessoas gostem…
Joss Stone, apesar do rostinho bonito e de sua origem britânica, assusta ao abrir a voz cantando como uma verdadeira cantora afro-americana, misturando técnica e beleza. Já Mick Jagger, como muitos sabem, começou fazendo covers, desenvolveu ao longo dos anos um estilo próprio, mas nunca se afastou da pura música sulista americana. No passado, também fez parceria com Peter Tosh e o Bob Marley.
O disco desenvolve-se com a mesma postura e proposta do início, com a faixa-título que abre o álbum já dando a ideia do que virá pela frente, ritmos Afro, melodias por hora cativantes e interessantes, performances vocais caprichadas e arranjos vez ou outra apurados.
A primeira e homônima faixa do álbum "Superheavy" não só anuncia a chegada do grupo, como também introduz o que encontramos por todo disco: groove pulsante, batidas no aro da bateria, alternância de vocais entre Marley, Jagger e Stone, vocalizações de Rahman, ótimos efeitos e arranjos perfeitos.
Inegavelmente, “Unbelievable” é a faixa que mais unifica as influências e os trabalhos de cada integrante. Por conta disso, provavelmente, é uma das canções mais bem compostas e animadas do registro.
Com um refrão que, com certeza, fica na sua cabeça e faz você cantarolar até mesmo sem perceber, a faixa “Miracle Worker” (single de estreia do grupo) tem todas as características de músicas típicas da Jamaica: conta com um baixo bem desenhado, teclado e bateria marcantes, guitarra com efeito wah-wah, metais e vocais bem elaborados, além de violino tocado belamente por Ann Marie Calhoun.



Para quem, assim como eu, estava ansioso e sentindo falta de ouvir Jagger tocar gaita no álbum, ficará maravilhado ao ouvir o solo que há em “Energy“, logo após a deixa da guitarra com reverb de Stewart e uma breve explosão na bateria, comandada, nesta faixa, por ninguém menos que Questlove.
Após a “energia louca” da música anterior, chega “Satyameva Jayathe“ que, como já é perceptível pelo nome, dá mais espaço para as influências culturais de Rahman. Ele compôs a introdução, o refrão e algumas estrofes em hindi. Embora a melodia não tenha me agradado como as outras do disco, “Satyameva Jayathe” conta com um solo de violino que, de certa forma, dá graça para a canção.
Em “One Day One Night”,  Jagger canta com um vocal poderosíssimo e, certas vezes, angustiante, sobre uma melodia que conseguiu casar perfeitamente Dub e Jazz carregado. Para abrilhantar ainda mais a faixa, próximo do fim, há um belo dueto com Joss Stone.


Ainda com o foco em Jagger, “Never Gonna Change“ é, definitivamente, um dos pontos altos do disco, composta por ele e por Stewart, parece até ser alguma da “nova safra” de músicas dos Stones, embora também lembre a clássica “Wild Horses”. Com seu vocal trêmulo, Jagger parece querer se convencer de que a personagem da letra, de fato, “nunca mudará (seu jeito)”, já que repete incansavelmente essa afirmação.
Dando sequência, chega “Beautiful People“, mostrando o “SuperHeavy lifestyle”, como Marley rima em uma parte. A música ganha um formato totalmente diferente da introdução que foi feita, que, confesso, levou-me a crer que a faixa teria o mesmo clima empolgante de “Energy”. Contudo, o resultado é uma canção carregada pelo Dub e Rocksteady.
Na relaxante  “Rock Me Gently“, Marley usa seu vocal rouco para fazer um dueto com Stone que, por sua vez, canta de maneira sutil até desenvolver seu timbre mais impactante, aquele que a consolida cada vez mais como uma verdadeira diva do Soul.
Em todo o álbum, não há nenhuma faixa como “I Can’t Take It No More", que pode ser descrita como surpreendente por apresentar um Rock’n' Roll vintage, com direito a trompete e saxofone e um pesado riff. Uma extasiante faixa composta apenas por Mick Jagger.
Em “I Don’t Mind“ o SuperHeavy mostra mais uma vez o seu lado mais sereno, carinhoso e apaixonado, principalmente por encontrar felicidade nas coisas simples da vida. A melodia completa perfeitamente a letra, passando, de fato, a sensação de que momentos apreciados são guardados na memória em uma fotografia.

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A audição do álbum termina com “World Keeps Turning“, uma faixa encorajadora e cativante, que tem todas as estrofes cantadas por Stone e um refrão que pode muito bem servir como um mantra: “Enquanto o mundo continua girando, e a vida segue, e os fogos continuam a queimar, mantenha seu coração forte”, em tradução livre.
A edição deluxe do álbum, em formato físico (CD), traz ainda mais 4 faixas: “Mahiya“, “Warring People“, “Common Ground” e “Hey Captain“. Apesar de destacar o respeitado trabalho de Rahman, “Mahiya”, na verdade, é uma música fraca e bastante repetitiva.
“Warring People” parecia seguir a mesma linha da faixa anterior, mas, surpreendentemente, até anima quando mistura estrofes e refrões à la David Bowie ao som que tem toques indianos, mas ainda assim, não deixa de ser uma música que poderia ter sido melhor trabalhada.
Com uma sonoridade que tem Two Tone proeminente, “Common Ground” é o grande destaque da seção de faixas bônus. Inclusive, ela deveria estar na track listing regular do álbum, talvez no lugar de “Satyameva Jayathe”.
Depois de uma viagem por países e culturas bem diferentes, o álbum termina com a animada “Hey Captain“, trazendo muitos efeitos no teclado, baixo, guitarra e bumbo marcantes.
SuperHeavy é, de fato, um álbum pesado e que faz jus ao nome dado ao projeto. É um álbum diferente, extremamente bem tocado, produzido e mixado e que, indubitavelmente, alcança o seu objetivo: misturar sons e unificar influências.


O SuperHeavy me faz ainda pensar: Quantos dos chamados supergrupos já foram formados na história? Desde a segunda metade dos anos 60, músicos e artistas se unem em projetos diferentes daqueles em que são conhecidos. Caso houvesse uma balança para medir o nível de qualidade, pode-se afirmar com certa naturalidade que os lados estariam mais ou menos com o mesmo peso. Se de um lado, de certo modo, ruim temos algo como Asia, Neurotic Outsiders, A Perfect Circle, The Good The Bad & The Queen e Fantomas, do lado bom aparecem ótimos nomes como Travelling Wilburys, Temple of the Dog, Racounters, Them Crooked Vultures, Chickenfoot e  muitos outros.
Mick Jagger resolve aparecer com um projeto para alterar o equilíbrio dessa balança, pois junto com Joss Stone, Dave Stewart, Damian Marley e A. R. Rahman, o vocalista da instituição chamada Rolling Stones desembarca com a estreia do SuperHeavy.


Um projeto magnifico muito bem composto, agradável aos ouvidos, com um álbum poderia a princípio se perder dentro de estilos musicais tão distintos, mas ao contrário, os artistas agregam influências e valores musicais em faixas deliciosamente distintas e, ainda assim, maravilhosas. Proveitosa e eficaz, a união desses artistas resultou em um disco fantástico. Espero que esse projeto tenha continuidade, porque Superheavy faz jus a título de super banda.

Integrantes
Mick Jagger - vocal e gaita
Dave Stewart - guitarra
Joss Stone - vocal
Damian Marley - vocal
A.  R. Rahman - bateria e percurrssão
Questlove - bateria
Ann Marie Calhoun - violinista
Shiah Coore e Courtney Diedrick (respectivamente, baixista e baterista da banda de Damian Marley)

Músicas
Side A
"Superheavy"- 5:05
"Unbelievable"- 3:50
""-4:09
"Energy"-3:42
"Satyameva Jayathe"-4:07
"One Day One Night"-4:37

Side B
"Never Gonna Change" -4:23
"Beautiful People"-5:00
"Rock Me Gently"-5:59
"I Can't Take It No More"-3:21
"I Don't Mind"-4:59
"World Keeps Turning"-3:47

Faixas-bônus do CD Deluxe Edition
"Mihaya"
"Warring People"
"Common Ground"
"Hey Captain"

Fotos do Vinil






Fotos: Diego Kloss

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