Nostalgia 03 | Mamonas Assassinas (1995)

Ano: 1995
Gravadora: EMI
Gênero: Rock Cômico, Punk Rock, Metal Alternativo.

"Atenção Creuzebek, no toque de quatro já vai...já, já, já, já vai..."
Para as crianças grandes, faço um tributo a uma das minhas bandas favoritas da infância: o Mamonas Assassinas. 
Na época, além de eu só receber mesada, não tinha condições de comprar o vinil, as únicas coisas que eu tinha dos Mamonas eram: o álbum de figurinhas que não consegui completar e a fita K-7 que ouvi inúmeras vezes.
Podem ter certeza de que muita gente sabe as letras decor, mas quando criança não sabia o significado do que eles diziam através da música extremamente irreverente. Mas infelizmente o que é bom dura pouco e, no caso deles foi muito pouco mesmo, mas o suficiente para marcar nossas vidas.
'Mamonas Assassinas' foi lançado em 1995, foi o único álbum oficial de estúdio lançado pela banda brasileira Mamonas Assassinas. O álbum vendeu mais de três milhões de cópias, recebendo assim uma certificação de Disco de Diamante em 1995, segundo a ABPD.
Para entender esse sucesso estrondoso, vamos fazer um breve histórico da banda.
Em março de 1989, Sérgio Reoli, ao trabalhar na Olivetti, conhece Maurício Hinoto, irmão de Bento. Ao saber que Sérgio é baterista, Maurício decide apresentar o irmão, que toca guitarra. A partir daí, Sérgio conhece Bento e decidem criar uma banda. 

Mamonas Assassinas - Foto: web

Na época, Samuel Reoli, irmão de Sérgio, não se interessava em música, preferindo desenhar aviões. De repente, porém, ao ver Sérgio e Bento ensaiarem em sua casa ele se interessou pela música e passou a tocar o baixo elétrico. Os três formaram o grupo Utopia, especializado em covers de grupos como Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Rush,etc...
Em um show, em Julho de 1990, o público pediu para tocarem uma música dos Guns N' Roses, e como não sabiam a letra, pediram a um espectador para ajudá-los. Alecsander Alves, conhecido como Dinho, voluntariou-se para cantar e provocou grandes risadas da platéia, com sua performance escrachada, garantindo o posto de vocalista da banda. Através de Dinho, entrou o quinto integrante da banda, o tecladista Júlio Rasec.
O Utopia passou a apresentar-se na periferia de São Paulo, e lançou um disco que vendeu menos de 100 cópias. Aos poucos, os integrantes começaram a perceber que as palhaçadas e músicas de paródia que faziam nos ensaios para se divertirem eram mais bem recebidas pelo público do que os covers e as músicas sérias. Começaram introduzindo devagar nos shows algumas paródias musicais, com receio da aceitação do público, mas eles perceberam que o público aceitava muito bem as músicas escrachadas, isso foi a chave para o sucesso da banda.
Através de um show em uma boate em Guarulhos (SP), conheceram o produtor Rick Bonadio (mesmo empresário da banda de Santos, Charlie Brown Jr.).Gravaram duas músicas, "Pelados em Santos" e "Robocop Gay" e decidiram, então, mudar o perfil da banda, a começar pelo nome, "Mamonas Assassinas do Espaço", criado por Samuel Reoli e reduzido para "Mamonas Assassinas".
Entre opções como Os Cangaceiros De Teu Pai, Coraçõezinhos Apertados, Uma Rapa de Zé e Tangas Vermelhas, acabaram escolhendo Mamonas Assassinas, pois segundo o vocalista foi o nome que mais os fez rir. Engana-se quem pensa que o nome foi inspirado naquelas famosas frutinhas verdes e espinhentas. Na verdade o nome significava seios grandes como pode ser identificado no nome em inglês que criaram para a banda: The Killer Big Breasts.
A banda enviou uma fita demo com as músicas "Pelados em Santos", "Robocop Gay" e "Jumento Celestino" para 3 gravadoras, entre elas a Sony Music e a EMI. Rafael Ramos, amigo da banda, baterista da banda Baba Cósmica e filho do diretor artístico da EMI, João Augusto Soares, insistiu na contratação. Após assistir uma apresentação do grupo em 28 de Abril de 1995, João Augusto resolveu assinar contrato com os "Mamonas".

Após gravar um disco produzido por Rick Bonadio (apelidado pela banda de Creuzebek), os "Mamonas" saíram em imensa turnê, apresentando-se em programas como Jô Soares Onze e Meia, Domingo Legal, Programa Livre (no SBT), Domingão do Faustão, Xuxa Park (ambos na Rede Globo) e tocando cerca de 8 vezes por semana, com apresentações em 25 dos 27 estados brasileiros e ocasionais dois shows por dia. O cachê dos "Mamonas" tornou-se um dos mais caros do país, variando entre R$50 e 70 mil, e a EMI faturou cerca de R$ 80 milhões com a banda. Em certo período, a banda vendia 100 mil cópias a cada dois dias.
Em 1992, quando eram o Utopia, os integrantes tentaram tocar no Estádio Paschoal Thomeo (conhecido como Thomeozão), em Guarulhos, porém foram expulsos pelo dirigente do mesmo, que considerava que a banda nunca iria fazer sucesso devido ao nome (Utopia). Em Janeiro de 1996, porém, já como Mamonas, os cinco lotaram o estádio.
O logotipo da banda é uma inversão da logomarca da Volkswagen, colocada de ponta-cabeça, formando assim um M e um A de "Mamonas Assassinas". Um veículo da empresa alemã é citado na canção "Pelados em Santos": a Volkswagen Brasília, e na canção "Lá vem o Alemão" a Volkswagen Kombi.


Os "Mamonas" preparavam uma carreira internacional, com partida para Portugal preparada para 3 de Março de 1996. Porém em 2 de Março, enquanto voltavam de um show em Brasília, o jatinho Learjet em que viajavam, prefixo LR-25D - PT-LSD, chocou-se contra a Serra da Cantareira, numa tentativa de arremeter vôo, matando todos que estavam no avião. O enterro, no dia 4 de Março, fora acompanhado por mais de 65 mil fãs (em algumas escolas, até mesmo não houve aula por motivo de luto).

Último show do Mamonas Assassinas, Brasília - 02 de março de 1996 -
Foto: Tina Coelho/CB Press

Esse acontecimento chocou o Brasil. Não se via tanta tristeza no país deste a morte do piloto Ayrton Senna, em 1994. Milhões de pessoas acompanharam tudo pela TV, desde o resgate dos corpos até o enterro na cidade de Guarulhos. No velório foram milhares de pessoas se espremendo para dar o último adeus àqueles que haviam se tornado ídolos nacionais. Depois disso os Mamonas tiveram lançados bonecos, livros, cd-rom, álbum de figurinhas e uma coletânea com versões ao vivo de algumas músicas e faixas inéditas. Os Titãs chegaram a gravar um cover da música "Pelados em Santos" no álbum "As Dez Mais".
Mamonas Assassinas - Foto: web
Até hoje críticos musicais e estudiosos que se perguntam como foi que um grupo como os Mamonas Assassinas alcançou tanto sucesso entre todas as faixas etárias e sociais. Todos procuram uma explicação para a fama estrondosa que o grupo alcançou. Seria o estilo musical? Seriam as letras das músicas? Seria a irreverência de seus integrantes? Será que o povo estava precisando de alegria? Será que eram apenas uma moda passageira? Apenas se tornaram um mito devido ao acidente que interrompeu drasticamente suas vidas?
Na verdade nada disso interessa, o grupo “Mamonas Assassinas” jamais será esquecido, e sua obra já está eternizada. 
“… O que Deus escreve, o tempo não pode apagar nunca mais. Deus escreveu a história dos meninos de Guarulhos, e por esse motivo, o tempo não pode apagar…!” – (Nanno Nascimento)

Curiosidades do álbum

A faixa "1406", refere-se a um telefone de compras, o (011)1406, que era de um famoso canal de televendas na primeira metade dos anos 1990, o Grupo Imagem.
"Pelados em Santos" fora regravada em espanhol com o nome "Desnudos en Cancún".
A introdução da música "Chopis Centis" é uma paródia de Should I Stay Or Should I Go, do grupo de punk The Clash.
O título de "Uma Arlinda Mulher" refere-se ao filme Uma Linda Mulher, estrelado por Julia Roberts. Quanto à estrutura musical, faz-se forte alusão às canções Fake Plastic Trees (1995) e Creep (1993), ambas do grupo inglês Radiohead. Além disso, o tecladista, Júlio Rasec, satiriza o estilo vocal do cantor Belchior, o que daria origem também à vinheta Belchi.
"Cabeça de Bagre II" é baseada na experiência do vocalista Dinho na quinta série primária. Seu título é a paródia de Cabeça Dinossauro, álbum dos Titãs. Nela, um de seus solos de guitarra é uma referência à risada do Pica-Pau, e um dos riffs principais é Baby Elephant Walk (O Passo do Elefantinho), trilha infantil composta pelo músico estadunidense Henry Mancini que nos tempos Jovem Guarda ganhou versão brasileira e se popularizou através do Trio Esperança.
A música "Robocop Gay" é uma homenagem ao personagem de Jô Soares, o Capitão Gay, com ligação ao personagem do ator Peter Weller, o Robocop. Versões ao vivo da música contavam com o "Melô do Piripiri", da cantora Gretchen.
O título da faixa "Bois Don't Cry" é uma paródia à música "Boys Don't Cry", do The Cure. Há um trecho da música "Tom Sawyer" do Rush e a parte mais pesada da música usa como base a música "The Mirror" do Dream Theater. Uma referência ao filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau termina a música.
Álbum póstumo de 1998: Mamonas Assassinas ao vivo.
"Lá Vem o Alemão" é uma paródia a um pagode de muito sucesso na época, "Lá Vem o Negão", do grupo Cravo e Canela. Nesta canção, Dinho satiriza os estilos vocais dos cantores Luiz Carlos, do grupo Raça Negra, e Netinho de Paula, então líder do Negritude Júnior.
As letras de "Débil Metal" são em inglês. O nome é trocadilho com heavy metal/death metal e com a expressão débil mental.
Apenas duas músicas não são de autoria dos Mamonas: "Sábado de Sol", composta por Pedro Knoedt, Rafael Ramos (filho do produtor João Augusto Soares, diretor artístico da gravadora EMI na época) e Felipe, da banda Baba Cósmica; e "Sabão Crá-Crá", vinda do folclore escolar urbano.
A canção "Não Peide Aqui, Baby", sátira de "Twist and Shout" dos Beatles, não foi ao álbum por conter palavras de baixo calão, mas aparece no lançamento póstumo Mamonas ao Vivo.

Integrantes
Dinho: Vocal e violão
Bento Hinoto: Guitarra e violão
Júlio Rasec: Teclado
Samuel Reoli: Baixo
Sérgio Reoli: Bateria

Músicas
Lado A
1. "1406"  
2. "Vira-Vira"  
3. "Pelados em Santos"  
4. "Chopis Centis"  
5. "Jumento Celestino"  
6. "Sabão Crá Crá"  
7. "Uma Arlinda Mulher"

Lado B  
8. "Cabeça de Bagre II"
9. "Mundo Animal"  
10. "Robocop Gay"
11. "Bois Don't Cry"  
12. "Débil Metal"  
13. "Sábado de Sol"
14. "Lá Vem o Alemão"

Fotos do vinil

Capa, vinil (Lado A) e encarte - Foto: Diego Kloss
Capa, vinil (Lado B) e encarte - Foto: Diego Kloss